Afterschool - Depois das Aulas
Título original: Afterschool
De: Antonio Campos
Com: Danielle Baum, Byrdie Bell, Emory Cohen
Género: Drama
EUA, 2008, Cores, 107 min.
Título original: Afterschool
De: Antonio Campos
Com: Danielle Baum, Byrdie Bell, Emory Cohen
Género: Drama
EUA, 2008, Cores, 107 min.
"“DEPOIS DAS AULAS”, o primeiro filme de um nova-iorquino de 26 anos com ascendência brasileira, estreou em Cannes e chega a Portugal na mesma data de “Uns Belos Rapazes”. Curioso: os dois filmes mais importantes da semana não podiam ser mais opostos, mas ambos colocam a adolescência no centro das atenções. No filme de Campos, que decorre num colégio interno da Nova Inglaterra, a adolescência está obcecada pela tecnologia. Depende dela. Aquilo que Robert (Ezra Miller, actor espantoso) entende por realidade é o que vê na Net: duas raparigas que se agridem brutalmente; um gato que toca piano; uma mulher humilhada num sítio de filmes porno... Campos vai investigar este modelo de teenager moderno, socialmente isolado, com o mundo inteiro ao alcance de um click. Mas o seu filme não é uma metáfora do desenvolvimento da tecnologia, nem a crítica de um sistema de ensino de elite, tão pouco a denúncia da falência de uma autoridade paterna (pais, professores...) substituída pela realidade virtual. O que Campos pretende é testar a consequência da interacção de todos estes vectores."
"Durante um trabalho extracurricular que Robert decide fazer em vídeo, acontece uma coisa terrível: a câmara DV do protagonista capta a morte brutal de duas irmãs gémeas, por overdose. Elas sangram e asfixiam à nossa frente, Robert assiste a tudo, fica paralisado — e a sua passividade impressiona. Captou ele essas imagens por mero acaso, como todos julgam? Ou será que, em silêncio (e esta é a grande fractura do filme), perseguiu algo que fosse, pelo menos, tão violento como o que se vê na Net? Nesse momento, já se sabe que Dave, colega de quarto de Robert, passa droga na escola. Mais tarde, é dito que a cocaína fatal tinha veneno de ratos. E as imagens daquela ‘morte em directo’, que abrem um inquérito policial, até nem são muito diferentes das imagens da ‘primeira vez’ do rapaz, filmada com a mesma distância clínica e o mesmo grau de abandono, como se toda a adolescência estivesse afinal presa a uma concha de emoções interditas. Prova disso é o filme de homenagem às gémeas que Robert depois edita — sem pinga de compaixão e de sentimentalismo."
"Captar a realidade, tal como ela é, com uma câmara e um microfone é uma ilusão — e um problema cinematográfico complexo. Vai sê-lo para Robert e também para os espectadores de “Depois das Aulas.” É que essa realidade, uma vez filmada, pode ser pervertida. E a um ponto tal que ela acaba por desaparecer. Quando o filme começa, o seu modelo parece óbvio: estamos a ver as imagens de ficção de um realizador (Campos) sobre as ‘imagens reais’ de um adolescente (Robert). Só que esta ordem de observação, tão confortável para nós, vai ser dinamitada. Campos escava bem fundo na aparência desta ‘hierarquia de olhares’ quando, numa sequência final notável, o filme decide correr todos os riscos — e integra imagens que perderam a autoria. Imagens sem ponto de vista. Como se, depois de tudo o que vimos, fosse impossível distinguir o que Campos filmou do que foi filmado por Robert. Neste momento, “Depois das Aulas” encontra o seu género: é um filme de terror puro." Francisco Ferreira, Expresso de 12/12/2009