Anticristo
Título original: Antichrist
De: Lars Von Trier
Argumento: Lars Von Trier
Com: Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg
Género: Drama, Thriller
Classificacao: M/18
ALE/DIN, 2009, Cores, 104 min.
Título original: Antichrist
De: Lars Von Trier
Argumento: Lars Von Trier
Com: Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg
Género: Drama, Thriller
Classificacao: M/18
ALE/DIN, 2009, Cores, 104 min.
"PORQUE preferiu o prazer à vocação maternal, porque consentiu que o filho se perdesse, ela introduz a desordem no mundo e carregará a culpa. Tentará castigar a própria carne, porque terá percebido que está nela a raiz do mal — a natureza não é coisa civilizada, os instintos não são fonte de pacificação, mas de violência. Conduzida para essa natureza (onde, em tempos, se descobriu pérfida ao ponto de inculcar dor no próprio filho) por um homem que acredita mais na razão que nas forças obscuras da Terra, ela vai mostrar-lhe que não é acaso ter sido uma mulher a ceder às seduções da serpente e a trazer o pecado ao Éden. Tentará, em raiva e atrocidade, dominá-lo pela dor e pelo sexo, como se pertencessem às mulheres esses segredos abomináveis pela prática dos quais, séculos fora, um genocídio foi perpetrado. Mas há que devolver a ordem ao mundo, varrer a culpa, a dor e o desespero."
"Por isso, um ímpeto de justiça se ergue — e ele sacrifica-a, pela sufocação e pela fogueira — não para castigar mas para libertar todas as mulheres que levavam as grilhetas do opróbio, pois preciso é que uma delas morra por todo o povo. É assim que, no fim do filme, como um cantochão de hossanas, ele pode ver a paz devolvida a todas as que ressuscitaram. O Anticristo, a Besta, a Grande Prostituta — é ela (Charlotte Gainsbourg), a mulher em estado de impudícia."
"É isto o que Lars von Trier queria dizer com “Antichrist — Anticristo”? Proponho que sim, mas, no fundo, não faço a menor ideia. Construído como uma narrativa simbólica — apocalíptica, dir-se-ia —, este filme vê-se como uma cerimónia solene, com o seu quê de mágico, como se houvesse uma vara que remexesse as coisas atrozes que nunca encaramos, jamais verbalizamos — e elas se pusessem a acontecer no ecrã. Podemos procurar decifrações, mas, como em todos os rituais, a ideia é mais a de nos deixarmos penetrar pela ambiência que a de encontrar uma explicação lógica para os eventos."
"Uma precaução, todavia: “Antichrist — Anticristo” é um filme extremo, pavoroso, descer aos infernos não se faz sem dor. Handel cola-se a um sexo masculino em ecrã panorâmico a penetrar uma mulher — mais tarde, esse mesmo sexo jorrará sangue numa das várias cenas que o olhar dificilmente sustenta. É experiência única de um cineasta perturbado e convulso religiosamente. Um documentário sobre dois actores a figurar o inominável. "
"“Antichrist — Anticristo” é um filme onde o odioso e o sublime se fundem. Acho-o admirável, fulgurante, corajoso, coerente com o resto da obra do cineasta e devastadoramente belo... mas, cem anos que eu viva, não quero voltar a encontrá-lo diante de mim." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 30/01/2010