MORREU DANIEL BENSAID, TEÓRICO TROTSKISTA FRANCÊS
Por Manuel Silva
Por Manuel Silva
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Bensaid foi um dos dirigentes estudantis do Maio de 68. Com Alain Krivine, Arlette Laguilier e outros trotskistas que participaram activamente naquele movimento, ajudou a fundar a LCR (Liga Comunista Revolucionária), que viria a ter alguma influência nos meios intelectuais e junto da juventude trabalhadora e estudantil francesa.
As mudanças verificadas no mundo nos últimos 40 anos levaram a maioria dos dirigentes do Maio de 68 a abandonarem os seus ideais e a aderirem ao que antes apelidavam de democracia parlamentar burguesa, passando a militar, uns na defesa de posições liberais, outros de posições socialistas moderadas. Daniel Bensaid e aqueles seus camaradas atrás mencionados mantiveram-se agarrados à sua ideologia de sempre.
Há pouco tempo, Bensaid ajudou a fundar uma outra organização denominada Novo Partido Anti-Capitalista. Nunca abandonou o combate ideológico num tempo em que uma parte do "fala-escreve", como diria George Orwell, decreta o pragmatismo, a tecnocracia, o economicismo e a morte das ideologias.
Para os trotskistas ainda existentes e para organizações de esquerda não inseridas nos partidos socialistas e comunistas tradicionais, como o Bloco de Esquerda, ter-se-á perdido uma referência importante, até porque Bensaid era uma pessoa dotada de uma inteligência e uma cultura fora do vulgar. A direita anti-democrática sentirá, certamente, uma certa satisfação interior, ainda que não assumida. Os democratas, especialmente os liberais que entendem que embora a economia seja importantíssima, deverá sempre ser orientada pela política, lamentarão a morte de um aguerrido adversário que deixa falta no campo contrário.
Quando, há mais de 20 anos, faleceu o maior ideólogo português do trotskismo, Manuel Sertório, os seus antigos camaradas de luta em Argel, na FPLN (Frente Patriótica de Libertação Nacional), durante os anos 60 e 70 até ao 25 de Abril, Vitor Cunha Rego, também já falecido, e Manuel de Lucena, então defensores do liberalismo e da candidatura de Freitas do Amaral a PR, também terminavam um artigo escrito sobre ele no "Semanário" com a frase: "faz falta no campo contrário".