20.1.10

MORREU DANIEL BENSAID, TEÓRICO TROTSKISTA FRANCÊS
Por Manuel Silva

Na semana passada, faleceu o filósofo de nacionalidade francesa Daniel Bensaid, um dos maiores teóricos trotskistas da nossa época, que contava 63 anos de idade.

Bensaid foi um dos dirigentes estudantis do Maio de 68. Com Alain Krivine, Arlette Laguilier e outros trotskistas que participaram activamente naquele movimento, ajudou a fundar a LCR (Liga Comunista Revolucionária), que viria a ter alguma influência nos meios intelectuais e junto da juventude trabalhadora e estudantil francesa.

As mudanças verificadas no mundo nos últimos 40 anos levaram a maioria dos dirigentes do Maio de 68 a abandonarem os seus ideais e a aderirem ao que antes apelidavam de democracia parlamentar burguesa, passando a militar, uns na defesa de posições liberais, outros de posições socialistas moderadas. Daniel Bensaid e aqueles seus camaradas atrás mencionados mantiveram-se agarrados à sua ideologia de sempre.

Há pouco tempo, Bensaid ajudou a fundar uma outra organização denominada Novo Partido Anti-Capitalista. Nunca abandonou o combate ideológico num tempo em que uma parte do "fala-escreve", como diria George Orwell, decreta o pragmatismo, a tecnocracia, o economicismo e a morte das ideologias.

Para os trotskistas ainda existentes e para organizações de esquerda não inseridas nos partidos socialistas e comunistas tradicionais, como o Bloco de Esquerda, ter-se-á perdido uma referência importante, até porque Bensaid era uma pessoa dotada de uma inteligência e uma cultura fora do vulgar. A direita anti-democrática sentirá, certamente, uma certa satisfação interior, ainda que não assumida. Os democratas, especialmente os liberais que entendem que embora a economia seja importantíssima, deverá sempre ser orientada pela política, lamentarão a morte de um aguerrido adversário que deixa falta no campo contrário.

Quando, há mais de 20 anos, faleceu o maior ideólogo português do trotskismo, Manuel Sertório, os seus antigos camaradas de luta em Argel, na FPLN (Frente Patriótica de Libertação Nacional), durante os anos 60 e 70 até ao 25 de Abril, Vitor Cunha Rego, também já falecido, e Manuel de Lucena, então defensores do liberalismo e da candidatura de Freitas do Amaral a PR, também terminavam um artigo escrito sobre ele no "Semanário" com a frase: "faz falta no campo contrário".