Por Manuel Silva
No final do ano passado, em artigo publicado no "Semanário Económico", Proença de Carvalho defendia a bipolarização política, com duas forças alternativas: à esquerda, o PS, e à direita, a fusão num só partido do PSD e do CDS.
Dizia ainda aquele jurista que o partido que actualmente representa a verdadeira social-democracia em Portugal é o Partido Socialista. De um ponto de vista histórico é uma verdade. o PS é o seguidor "puro" da social-democracia desde Ferdinand Lassalle, passando pelos marxistas revisionistas Kautsky, Kerensky ou Bernstein, até Willy Brant e os actuais sociais-democratas da Internacional Socialista.
A social democracia defendida por Sá Carneiro consistia (e consiste, com as devidas actualizações) na liberalização política e económica acompanhada de princípios de solidariedade e justiça social, herdados da social-democracia tradicional e da esquerda, em geral.
Proença de Carvalho é um liberal apartidário, que tem cooperado com o PSD, concorda com grande parte da política económica do CDS, mas está contra o seu conservadorismo social. Por outro lado, critica o estatismo do PS, embora tenha elogiado as reformas iniciais do primeiro governo de Sócrates, do qual é advogado. Considera ainda o primeiro-ministro uma pessoa de esquerda moderna, embora o tenha aconselhado a olhar mais para Blair e menos para Zapatero (e, já agora, acrescentamos nós, para o estatista de direita casado com Carla Bruni).
Como considera o partido de Portas bastante conservador, porque defende Proença de Carvalho uma aliança do PSD com o mesmo? Para que o PS e o seu cliente se mantenham por muitos anos no poder? Mas será esse desejo coerente com a ideologia liberal e negadora do estatismo professada por aquele causídico? São questões a que só o próprio poderá responder.
DECLARAÇÕES DE MIGUEL RELVAS AO "DN"
Em entrevista recentemente concedida ao "Diário de Notícias", o apoiante de Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas, repudiava - e bem - a reedição do bloco central, mas mostrou concordar com uma aliança com o CDS.
Tal aliança é de rejeitar, pelos seguintes motivos:
1º - Quando em 1979 se constituiu a Aliança Democrática (AD), liderada por Sá Carneiro, o CDS era um partido conservador, democrata-cristão e pró-europeu e tinha à sua frente dirigentes com inequívoca formação democrática, como Freitas do Amaral e Amaro da Costa.
Além do CDS, integravam ainda a AD o PPM e o Movimento Reformador, saído do PS, do qual faziam parte, entre outros, António Barreto, Medeiros Ferreira e Vitor Cunha Rego, homens com um passado de esquerda e anti-salazarista, que tinham estado presos, exilados ou perderam o emprego no período obscurantista anterior ao 25 de Abril.
2º - A AD não era um bloco de direita, mas uma aliança reformista e liberalizadora, que englobava toda a direita democrática, o centro e a esquerda mais moderada. E Sá Carneiro não era, não foi de direita.
3º - O CDS actual é dirigido por gente maioritariamente conservadora ou mesmo reaccionária, nos planos social e de costumes. As suas bases sempre foram essencialmente retrógradas, social e politicamente. Freitas do Amaral teve o condão de integrar esta direita na democracia, mas a mesma nunca morreu de amores pelo seu líder. Daí as suas saídas (duas) do partido que fundou.
4º - Alianças com o CDS, neste século, só trouxeram pesadas derrotas ao PSD, como se viu sob as lideranças de Marcelo, Barroso ou Santana.
5º - A direita portuguesa não é igual às direitas americana, britânica ou da generalidade da Europa continental, as quais nasceram e são democráticas. A direita nacional é herdeira de trauliteiros absoluistas miguelistas, dos talassas, de Sidónio Pais e do salazarismo. Ouçam-se as bases do CDS e facilmente se tirará esta conclusão.
Por tudo isto, uma aliança ou fusão (vade retro) com o partido liderado por Paulo Portas empurraria o PSD para a direita, deixando o centro - onde se ganham eleições - a Sócrates e aos socialistas. Se estes se virem livres do actual líder e elegerem outro, de esquerda moderna e liberal, como Blair ou Lula, manter-se-ão por muitos e bons anos no governo.
Por outro lado, ninguém entenderia como Passos Coelho, um liberal progressivo a todos os níveis, se poderia aliar à direita mais retrógrada que tivemos após o 25 de Abril.
O PSD deve seguir o seu próprio caminho, em defesa de um liberalismo social e contrário ao socialismo, mas também ao conservadorismo. Espera-se que tal conste da mensagem que no próximo dia 21 Passos Coelho irá transmitir ao País.
Dizia ainda aquele jurista que o partido que actualmente representa a verdadeira social-democracia em Portugal é o Partido Socialista. De um ponto de vista histórico é uma verdade. o PS é o seguidor "puro" da social-democracia desde Ferdinand Lassalle, passando pelos marxistas revisionistas Kautsky, Kerensky ou Bernstein, até Willy Brant e os actuais sociais-democratas da Internacional Socialista.
A social democracia defendida por Sá Carneiro consistia (e consiste, com as devidas actualizações) na liberalização política e económica acompanhada de princípios de solidariedade e justiça social, herdados da social-democracia tradicional e da esquerda, em geral.
Proença de Carvalho é um liberal apartidário, que tem cooperado com o PSD, concorda com grande parte da política económica do CDS, mas está contra o seu conservadorismo social. Por outro lado, critica o estatismo do PS, embora tenha elogiado as reformas iniciais do primeiro governo de Sócrates, do qual é advogado. Considera ainda o primeiro-ministro uma pessoa de esquerda moderna, embora o tenha aconselhado a olhar mais para Blair e menos para Zapatero (e, já agora, acrescentamos nós, para o estatista de direita casado com Carla Bruni).
Como considera o partido de Portas bastante conservador, porque defende Proença de Carvalho uma aliança do PSD com o mesmo? Para que o PS e o seu cliente se mantenham por muitos anos no poder? Mas será esse desejo coerente com a ideologia liberal e negadora do estatismo professada por aquele causídico? São questões a que só o próprio poderá responder.
DECLARAÇÕES DE MIGUEL RELVAS AO "DN"
Em entrevista recentemente concedida ao "Diário de Notícias", o apoiante de Pedro Passos Coelho, Miguel Relvas, repudiava - e bem - a reedição do bloco central, mas mostrou concordar com uma aliança com o CDS.
Tal aliança é de rejeitar, pelos seguintes motivos:
1º - Quando em 1979 se constituiu a Aliança Democrática (AD), liderada por Sá Carneiro, o CDS era um partido conservador, democrata-cristão e pró-europeu e tinha à sua frente dirigentes com inequívoca formação democrática, como Freitas do Amaral e Amaro da Costa.
Além do CDS, integravam ainda a AD o PPM e o Movimento Reformador, saído do PS, do qual faziam parte, entre outros, António Barreto, Medeiros Ferreira e Vitor Cunha Rego, homens com um passado de esquerda e anti-salazarista, que tinham estado presos, exilados ou perderam o emprego no período obscurantista anterior ao 25 de Abril.
2º - A AD não era um bloco de direita, mas uma aliança reformista e liberalizadora, que englobava toda a direita democrática, o centro e a esquerda mais moderada. E Sá Carneiro não era, não foi de direita.
3º - O CDS actual é dirigido por gente maioritariamente conservadora ou mesmo reaccionária, nos planos social e de costumes. As suas bases sempre foram essencialmente retrógradas, social e politicamente. Freitas do Amaral teve o condão de integrar esta direita na democracia, mas a mesma nunca morreu de amores pelo seu líder. Daí as suas saídas (duas) do partido que fundou.
4º - Alianças com o CDS, neste século, só trouxeram pesadas derrotas ao PSD, como se viu sob as lideranças de Marcelo, Barroso ou Santana.
5º - A direita portuguesa não é igual às direitas americana, britânica ou da generalidade da Europa continental, as quais nasceram e são democráticas. A direita nacional é herdeira de trauliteiros absoluistas miguelistas, dos talassas, de Sidónio Pais e do salazarismo. Ouçam-se as bases do CDS e facilmente se tirará esta conclusão.
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Por tudo isto, uma aliança ou fusão (vade retro) com o partido liderado por Paulo Portas empurraria o PSD para a direita, deixando o centro - onde se ganham eleições - a Sócrates e aos socialistas. Se estes se virem livres do actual líder e elegerem outro, de esquerda moderna e liberal, como Blair ou Lula, manter-se-ão por muitos e bons anos no governo.
Por outro lado, ninguém entenderia como Passos Coelho, um liberal progressivo a todos os níveis, se poderia aliar à direita mais retrógrada que tivemos após o 25 de Abril.
O PSD deve seguir o seu próprio caminho, em defesa de um liberalismo social e contrário ao socialismo, mas também ao conservadorismo. Espera-se que tal conste da mensagem que no próximo dia 21 Passos Coelho irá transmitir ao País.