10.2.10

Homens que Matam Cabras só com o Olhar
Título original: The Men Who Stare at Goats
De: Grant Heslov
Com: George Clooney, Ewan McGregor, Jeff Bridges, Kevin Spacey
Género: Comédia Dramática, Guerra
Classificação: M/12
EUA/GB, 2009, Cores, 94 min.

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"BASTA VER a primeira sequência desta segunda longa-metragem de Heslov (que aqui adapta o homónimo livro de investigação jornalística de Jon Ronson) para perceber que o delírio é a sua matéria-prima. Sinopse: estamos em 1988 e vemos um brigadeiro do Exército ultra-secreta do Exército norte-americano a ‘estampar-se’ no seu gabinete ao tentar atravessar uma parede."

"Corte, ecrã a negro com aviso inquietante gravado a branco (“há mais verdade aqui do que você estaria disposto a acreditar”), transição para o Michigan de 2002 e entrada em cena de Bob Wilton (McGregor), um jovem jornalista à procura do sentido da vida que se descobre preterido pela namorada em prol do seu editor maneta."

"Novo corte (com abertura para um genérico inicial que já tardava a chegar) e novo salto no espaço-tempo da narrativa: estamos agora em 2003, na Cidade do Kuwait, onde Wilton tenta arranjar matéria de reportagem que lhe permita atenuar a dor de corno. É aí que conhece Lyn Cassady (Clooney), um militar que, nos anos 80, teria feito parte de uma unidade liderada por Bill Django (Bridges), um veterano da guerra do Vietname que se converteu ao movimento New Age. O objectivo da unidade (entretanto desmantelada)? Formar um grupo de ‘espiões psíquicos’ (treinados à base de Billy Idol, anfetaminas e meditação transcendental) que fossem capazes de ajudar os EUA a vencer a Guerra Fria."

"O que se segue é, no mínimo, difícil de resumir: Cassady arrasta Wilton para o Iraque no intuito de cumprir uma missão secreta que parece não ter fim à vista; a montagem vai alternando rapidamente entre o presente e o passado (com a narração em off de Wilton a assegurar a ligação entre os segmentos do filme); os efeitos humorísticos sucedem-se à custa de imprevistas suspensões da banda sonora, de súbitas variações de ângulo de câmara e/ou da escala de planos e, ainda, dos delírios paródico-psicotrópicos do texto (que nos trouxe à memória o "Catch 22" de Joseph Heller)."

"Mas o que nos interessa aqui? Não as divertidas anedotas sobre a política externa norte-americana das últimas décadas mas, sobretudo, o 'ritmo desportivo' das montagens e o subtexto que se insinua entre os seus planos. É que, no fundo, aquilo de que o filme de Heslov nos quer falar é da erosão pós-moderna da figura do herói e da nossa (in)capacidade de a recriarmos (no cinema ou fora dele), pelo simples facto de acreditarmos nela."



"E isso é quanto chega para elevarmos o filme acima da média geral." Vasco Baptista Marques, Expresso de 06/02/2010