8.2.10

REPÚBLICA DAS BANANAS
Por Manuel Silva

Vemos, ouvimos e lemos cada vez mais afirmações segundo as quais Portugal parece uma república das bananas como as vigentes em outros tempos na generalidade e hoje em alguns países da América Latina.

O que parece começa mesmo a ser.

Como qualificar uma república, cujo primeiro-ministro, segundo vários órgãos de comunicação, urde "esquemas" com a clique de yupies que o rodeia para controlar jornais e televisões e/ou para sanear vozes incómodas nos mesmos?

Como qualificar uma república cujo chefe de governo se licencia num fim de semana e apresenta provas finais de curso numa simples folha A4, numa universidade que encerrou e cujos principais responsáveis estão presos, indiciados por trapaças efectuadas no estabelecimento de ensino que dirigiam?

Como qualificar o carácter de um primeiro-ministro que disse no parlamento nada saber da tentativa da PT, onde o Estado detém uma golden share, para adquirir parte muito considerável do capital da empresa detentora da TVI, quando hoje é indesmentível que sabia de tudo e enganou o mesmo parlamento?

Aquando das últimas eleições legislativas, o dito primeiro-ministro desconhecia, por acaso, a situação das contas públicas? Como é que o défice aumenta em 4 meses de menos de 6% para 9,3% do PIB?

Por motivos bem menores outros chefes de governo apresentaram a sua demissão ou foram demitidos em vários países democráticos.

Isto para não falar dos avisos das agências de rating, do FMI, da CE e de outras organizações que, goste-se ou não, condicionam a nossa economia, segundo os quais, se não forem tomadas medidas enérgicas e impopulares, estaremos brevemente ao nível da Grécia, enquanto o mesmíssimo primeiro-ministro começou por negar a crise, posteriormente disse que a mesma passou, quando todos a sentíamos, e continua a afirmar não estarmos mal. Faz lembrar a orquestra do Titanic a tocar enquanto este barco se afundava.

No entanto, o PS continua a liderar as sondagens. Segundo a última publicada no "Semanário Económico", se agora houvesse eleições, o partido liderado por Sócrates venceria as mesmas com 40,5% de votos (cerca de mais 4% que nas últimas eleições legislativas) e com mais 11,2% que o PSD.

Se com os factos atrás referidos, o aumento do desemprego e da pobreza (especialmente da pobreza envergonhada, com destaque para as classes médias proletarizadas ou em vias disso), a arrogância de Sócrates no parlamento e tantas outras coisas, o PS voltaria a vencer eleições, tal não se deve a qualquer "estupidez das massas", como dizem alguns pseudo-iluminados, mas à má oposição praticada pelo maior partido da dita.

O PSD não tem, na prática, liderança, direcção ou linha de rumo. Cai em contradições flagrantes como criticar o executivo de Sócrates de ser despesista (o que é verdade), enquanto pretende aumentar a transferência de verbas para a Madeira, presentemente mais rica que a esmagadora maioria das regiões continentais.

Depois da procriação como objectivo do casamento e da interrupção da democracia por 6 meses, a "última" de Manuela Ferreira Leite foi a afirmação de que Portugal "não precisa de políticos, mas de estadistas". Os estadistas, por acaso, não são políticos? Este discurso anti-políticos e anti-política é típico também de uma república de bananas, sendo frequentemente ouvido a "políticos" de tasca. Tal linguagem esteve, em grande parte, na origem de ditaduras populistas, essencialmente de direita.

Também o mestre de Manuela, Cavaco Silva, quando chegou à liderança do PSD, disse serem os problemas nacionais essencialmente técnicos e não políticos. Posteriormente, não voltou a usar tal expressão. No entanto, exerceu o poder de uma forma a-ideológica e tecnocrática. Não ligava nada ao PSD, sendo, por isso, muito responsável pela situação a que o mesmo chegou.

Por estas e por outras, há a desilusão e descrença que todos os dias podemos verificar na população.

É ALTURA DE MUDAR

Para que a esperança seja renovada, o PSD deverá eleger para a sua liderança Pedro Passos Coelho, que já demonstrou ter coragem para atacar o calcanhar de Aquiles que empobrece a nossa e outras sociedades europeias: o Estado-Providência, comprometendo-se a reformá-lo, diminuindo os seus custos com o objectivo de encurtar o défice e a despesa pública, mas também de aliviar a carga fiscal como forma de atrair investimentos, fazendo crescer a economia.

Este sim, é um programa de mudança, contrariamente ao apresentado por Manuela Ferreira Leite aquando das últimas eleições, o qual praticamente nada mexia no Estado Social.

Se os militantes do PSD escolherem alguém do círculo de Ferreira Leite ou qualquer outro herdeiro do cavaquismo, tudo continuará na mesma. Será caso para dizer que o PSD, estando à beira do abismo, deu o passo em frente. A opção entre um social democrata que seja a continuação do actual situacionismo do partido e o "socialismo" de Sócrates faz lembrar uma canção de Sérgio Godinho, que diz: "...antes o poço da morte que tal sorte".