7.2.10

Tudo Pode Dar Certo
Título original: Whatever Works
De: Woody Allen
Com: Larry David, Adam Brooks, Lyle Kanouse, Evan Rachel Wood
Género: Comédia
Classificação: M/12
EUA/FRA, 2009, Cores, 92 min.

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"OS ÚLTIMOS quatro anos de Woody foram de exílio (na Europa) e de feitiço (por Scarlett Johansson). Ele foi do melhor ao pior, de um “Match Point” fulminante a um “Vicky Cristina Barcelona” a girar sobre cartão postal. Mas o ‘balão scarlettiano’ foi perdendo o gás. De resto, foi sempre assim: o homem embasbaca-se, cai de quatro, mas acaba sempre a dar a volta por cima. O ego monumental e o hedonismo inerente são bons conselheiros que invariavelmente lhe recordam que só é bom enquanto dura e que tudo tem um fim. Para as lágrimas, sinceras ou de crocodilo, há sempre um kleenex na algibeira. Até porque Woody está hoje protegido por uma ‘pequena máquina’ de produção calibrada como um relógio suíço. And the show must go on."

"E o nosso Woody voltou para casa. Foi ao baú e recuperou um velho guião que tinha deixado há 30 anos na gaveta, centrado em Boris Yellnikoff (Larry David), notável físico que falhou tudo na vida: casamento, Prémio Nobel e até o suicídio. Misantropo, iconoclasta e dândi, o maduro Boris encontra uma miúda de 21 anos a dormir à sua porta. Ela chama-se Melody (Evan Rachel Wood). Veio das berças para triunfar na grande cidade e nunca ouviu falar de física quântica. Boris dá-lhe guarida por uns dias, que se fazem meses. Um ano depois, casam. É nesta altura que Marietta (Patricia Clarkson), mãe de Melody, entra em cena e invade o casal, descobrindo com horror a filha casada com um velho excêntrico que só respira com o mundo todo a rodar à sua volta."



"Entrarão outras personagens em jogo naquele ritmo de escrita endiabrado e com elenco irrepreensível, como já não se via há muito em Woody. A ‘pequena máquina’ volta a carburar e a entregar de olhos vendados toda a responsabilidade aos actores, sobretudo a um Larry David a deslizar para a stand up comedy, sem receio de enfrentar os espectadores. O décor é o mesmo, as situações também — o teatro é déjà vu. Houve um tempo em que Woody Allen era responsável pelas expressões mais radicais da comédia contemporânea. Esse tempo acabou. E o que desespera é que o realizador parece estar-se nas tintas para isso. Mudando de assunto: Woody delegou a Lerry David (o inveterado pessimista George Steinbrenner da série "Sienfield") um papel escrito à sua medida. Não é a primeira vez que se encontram ("Os Dias da Rádio" e "Histórias de Nova Iorque"), mas não se suspeitava que a aparição pudesse transformar-se no alter ego perfeito de Woody. E se este 'fala' por Larry e pela personagem de Boris, é para se permitir voltar a um certo negrume cómico e cínico - espécie de reconciliação consigo próprio e com o princípio de prazer dos seus trabalhos mais estimáveis. O regresso não é de génio. Mas fez-lhe bem e deve ser visto, definitivamente." Francisco Ferreira, Expresso de 07/02/2010