22.2.10

Um Homem Sério
Título original: A Serious Man
De: Ethan e Joel Coen
Com: Michael Stuhlbarg, Richard Kind, Fred Melamed
Género: Comédia Dramática
Classificação: M/12
EUA/FRA/GB, 2009, Cores, 105 min.

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"O PRELÚDIO é logo uma pequena obra-prima de humor negro, de nonsense, em jeito de história exemplar, leste-europeia, onde a moral não é tão clara como isso — é por estas e por outras que são precisos os rabis, para a interpretar. Depois, há todo o percurso de um homem de família, um homem sério, temente a Deus, bom para o seu vizinho, pilar da comunidade, pai de família, judeu praticante — Larry Gopnik de seu nome —, que, como Job, parece estar a ser posto à prova por uma potestade rabugenta e fera a experimentar, a ver até onde o tipo aguenta. Aguenta muito, aguenta tudo — e nunca se afasta do recto caminho, nunca se cansa de ir à sinagoga procurar o aviso dos supostamente sábios que estudam a “Torah”, praticam os ritos, têm toda a tradição na memória e sabem o que fazer com ela."

"Mas não serve de nada. Provavelmente dando materialidade social ao Princípio de Incerteza de Heisenberg que Larry ensina na Universidade, não é possível determinar nunca o estado de um homem no seio das inter-relações com os outros — e, assim, o Universo, em vez de ser aquela coisa pensada e medida por um Deus numa lógica determinista de causa e consequência, é um caos probabilístico onde nunca ninguém há-de ter a certeza de coisa nenhuma. Por isso, a única coisa a fazer é desejar mazel tov! — boa sorte!"

"Eu acho que há um quarto de século que os Coen têm andado a fazer a irrisão desta incerteza, a jogar com a ideia de que toda a ordem vigente é uma aparência que, ao mínimo sinal, se estilhaça. Pode ser um homem que encomenda um crime estúpido (“Fargo”), ou um serial killer que aparece (“Este País Não É para Velhos”), ou uns pequenos malandros que resolvem desatinar (“História de Gangsters”), ou um escritor de argumentos que se vê rodeado de gente impossivelmente peculiar (“Barton Fink”). E a pós-modernidade que neles se detectou não é mais que o gesto de sublinhar essa ideia de aparência. Mas nunca a matriz judaica do seu cinema foi tão explícita como aqui."



"E, para todos os que acham que os Coen andaram quase uma década à procura de um rumo até que triunfaram num filme que nem parecia deles (“Este País Não É para Velhos”), ei-los agora que nos trazem um filme que parece tanto deles que até se estranha." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 20/02/2010