Título original: A Single Man
De: Tom Ford
Com: Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult, Matthew Goode
Género: Drama
Classificação: M/16
EUA, 2009, Cores, 101 min.
"UM POUCO mais e seria melodrama mexicano. Um pouco menos e seria irrisório, faz-de-conta sem alma, provavelmente ridículo. Mas Colin Firth aceita percorrer a corda bamba sobre estes dois abismos e dar-nos um retrato comovente de um solteiro singular (single, no título, pretende-se lido nesta dupla condição) — por certo a melhor coisa que o vimos fazer na vida. Não é pouco."
"No princípio George, professor de literatura, está em estado de desespero. Não parece possível iludir a ausência do companheiro de muitos anos que morreu num acidente de automóvel há uns meses já — e ele continua uma existência de morto-vivo, suspenso num aquário de conforto e no futuro o projecto de uma pistola apontada à cabeça e o seu próprio dedo no gatilho a disparar. Tudo num espaço desenhado como o supra-sumo da elegância, um manto de falsidade, como se um exterior onde está tudo no sítio fosse a violenta antítese de um íntimo onde nada encaixa em nada. Depois, lentamente, o projecto de suicídio adensa-se, prepara-se, como uma despedida inadiável partilhada com uma vizinha igualmente em estado de solidão (esplêndida Julianne Moore, tão bela, tão frágil, tão triste). Comparticipam gin e memórias, um abraço, embriaguez, a impressão do abismo aberto ali ao lado. E a melancolia de nem saltar nem fugir. Mas a vida pode dar muitas voltas."
"“Um Homem Singular” é uma história de luto homossexual, mas podia ser uma história de luto — só. É filme de uma eficácia imaculada, nem parece obra de um estreante — Tom Ford — com nome feito no campo do estilismo. O clima que a fita arquitecta (algo de onírico, aquático, suspensão ébria) é inesperadamente bem conseguido, não cedendo Ford à tentação dos principiantes (o uso da palavra), antes acreditando no poder das imagens e da sua concatenação. É isso que faz a especificidade do cinema." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 20/02/2010