Título original: The Time That Remains
De: Elia Suleiman
Com: Ali Suliman, Elia Suleiman, Saleh Bakri
Género: Drama
BEL/FRA/GB/ITA, 2009, Cores
"Sete anos depois da última longa-metragem (“Intervenção Divina”), Elia Suleiman regressa ao território onde nos havia deixado — suspensos — em 2002: a Palestina, território político do conflito israelo-árabe, mas, também, território estético do olhar burlesco que tem vindo a caracterizar o seu cinema. Nada que se estranhe: afinal, “O Tempo que Resta” representa o último segmento de uma trilogia tragicómica sobre a complexa posição do povo palestiniano na contemporaneidade, que teve em “Chronicle of a Disappearance” e em “Intervenção Divina” os seus dois restantes momentos. Mas, aqui, o projecto conquista um novo (porque mais dilatado) escopo histórico e um novo (porque mais ambicioso) fôlego narrativo: trata-se, em suma, de ilustrar a história da ocupação israelita da Palestina desde 1948 até hoje, cruzando-a sistematicamente com a odisseia da família do próprio Suleiman (e é na conjugação desses dois olhares, o político e o pessoal, que volta a residir uma das grandes forças do cinema de Suleiman)."
"De facto, após um belo prólogo em estilo apocalíptico que se limita a introduzir o tom do filme (“onde estou eu?”, pergunta então o taxista que protagoniza a sequência), aquilo que temos é uma sucessão de flashbacks, encadeados em progressão cronológica linear, que nos dão a ver a juventude do pai do cineasta e os seus actos de resistência em 1948; a infância de Suleiman e a sua difícil educação numa escola israelita; a adolescência do cineasta e a sua silenciosa tomada de consciência da situação da Palestina ocupada. Depois, o ciclo narrativo encerra-se sobre si mesmo, o filme retoma a sequência de abertura e regressamos à época contemporânea para descobrir que, entre o passado e o presente, pouco ou nada mudou num território onde a reiteração da catástrofe impõe quotidianamente um simulacro de normalidade (veja-se, por exemplo, o genial gag do tanque e do telefonema). Mas, a virtude capital (ou o capital vício...) do filme de Suleiman consiste na sua liminar recusa da própria ideia de história. Na realidade, ao privilegiar o plano fixo em detrimento do plano em movimento, e a descontinuidade do gag em detrimento da continuidade narrativa, Suleiman deseja visar a não-história de um não-país, o eterno retorno da mesma sensação de cativeiro eterno (sancionado, de forma evidente, pelas diversas repetições cénicas que o filme comporta)."
"O leitor pode pegar ou largar. Nós, em definitivo, pegamos." Vasco Baptista Marques, Expresso de 17/04/2010