Título original: Madeo
De: Bong Joon-ho
Argumento: Bong Joon-ho, Park Eun-kyo
Com: Bin Won, Kim Hye-ja
Género: Drama
Classificacao: M/12
Coreia do Sul, 2009, Cores, 128 min.
"BONG JOON-HO, não é a primeira vez que o dizemos, é o último dos grandes cineastas coreanos a pisar a terra. O responsável pelos magníficos “Memories of Murder” e “The Host — A Criatura”. Este último filme, êxito colossal no seu país, abriu o génio de Bong ao mundo e, em simultâneo, colocou-lhe um problema: era uma daquelas megaproduções perfeitas com tendência para apagar a assinatura do seu autor. E Bong, um puro believer da mise en scène, é um autor da cabeça aos pés. Filma magnificamente e como muito poucos nos dias que correm. Os seus planos reconhecem-se seus, tal como no cinema de Shyamalan, de quem ele é, cada vez mais, o ‘equivalente asiático’. Terá sido por isso que Bong realizou este “Mother — Uma Força Única” sem mutantes e sem efeitos especiais? E tiveram razão aqueles que, no ano passado, em Cannes 2009 — talvez por causa da ‘ausência de espectáculo’ depois de um filme tão espectacular —, viram no novo rebento um filme menor?"
"“Mother — Uma Força Única” traz uma fábula moral sobre o amor de uma mãe por um filho. Seguimos a via-sacra de uma viúva para quem o filho é a única razão da sua existência. Acontece que o filho, que é meio retardado, é um dia acusado do assassínio de uma rapariga do liceu. E a mãe-galinha, que acredita na sua inocência, começa a mover o céu e a terra para prová-lo, partindo sozinha à procura do assassino(a). Parece um melodrama? Sim, mas Bong sabe o que fazer nas suas duas horas de filme para deixar o terror, a pouco e pouco, penetrar nos gestos do quotidiano. Linha de partida pouco excitante depois de um peixe-monstro que devorava as famílias domingueiras de Seul? Talvez. Mas, atenção: esta mãe criada por Bong, quanto mais procura a salvação do filho, mais cega fica. Tal como as personagens, o espectador não conhece os detalhes do crime. Mas a fé da mãe é inabalável. Bong põe em marcha um dispositivo cinematográfico tão forte que o espectador fica preso ao thriller e à dúvida — e essa dúvida não pára de crescer: o filho matou ou está inocente? Entretanto, batem outros crimes à porta. É que o instinto maternal da heroína de “Mother...”, afinal, é uma bola de neve monstruosa. A narrativa quer provar a inocência de um falso culpado, mas é de tal modo manipulada e conduzida pelos olhos da protagonista que até pode admitir crimes verdadeiros. E, estes sim, explodem-nos à frente. Parece Hitchcock, não é? Mas não: é Bong Joon-ho." Francisco Ferreira, Expresso de 15/05/2010