36 Vistas do Monte Saint-Loup
Título original: 36 Vues du pic Saint-Loup
De: Jacques Rivette
Argumento: Jacques Rivette, Pascal Bonitzer, Christine Laurent, Sergio Castellitto, Shirel Amitay
Com: Sergio Castellito, Jane Birkin , André Marcon, Jacques Bonnaffé, Julie-Marie Parmentier
Género: Comédia, Drama
Classificação: M/12
Estúdios: Cinema 11, France 2 Cinéma, Les Films du Losange, Pierre Grisé Productions
FRA/ITA, 2009, Cores, 86 min.
Título original: 36 Vues du pic Saint-Loup
De: Jacques Rivette
Argumento: Jacques Rivette, Pascal Bonitzer, Christine Laurent, Sergio Castellitto, Shirel Amitay
Com: Sergio Castellito, Jane Birkin , André Marcon, Jacques Bonnaffé, Julie-Marie Parmentier
Género: Comédia, Drama
Classificação: M/12
Estúdios: Cinema 11, France 2 Cinéma, Les Films du Losange, Pierre Grisé Productions
FRA/ITA, 2009, Cores, 86 min.
"O novo filme de Rivette começa com um carro empanado e um boy meets girl. O ‘rapaz’ e a ‘rapariga’, Vittorio (Sergio Castellitto) e Kate (Jane Birkin), não são propriamente uns novatos... Não debutam sequer no misterioso cinema de Rivette (Castellitto entrou em “Sabe-se Lá!”, Birkin em “O Amor de Rastos” e “A Bela Impertinente”), mas o carro empanado e a situação cómica daquele encontro (em que ambos não dizem patavina) acrescenta às personagens uma jovialidade secreta, o efeito de uma primeira vez. Estamos no verão, no Languedoc-Roussillon, no sul de França, debaixo do monte Saint-Loup do título que rima com lendas de amor medievais — mas só saberemos exatamente onde estamos no último plano do filme. E entretanto..."
"Entretanto, Rivette já navega a velocidade de cruzeiro num dos seus filmes mais curtos: 82 minutos, os mesmos que o cineasta, que costuma apostar em narrativas muito mais longas, leva de anos de vida. Kate e Vittorio voltam a cruzar-se pouco depois. Ela é filha do fundador de um pequeno circo que ela abandonou há 15 anos por causa de um desgosto. Só que o seu pai, figura que nunca conheceremos e que tem o seu quê de mítico na ficção, acabou de falecer, forçando Kate, que estava acomodada em Paris, a regressar à tournée da companhia para a salvar de morte certa. Além disso, ela tem contas para ajustar com o passado. Vittorio é italiano, guia um Porsche e está algures em trânsito entre Milão e Barcelona — talvez seja um homem de negócios e, vá-se lá saber porquê, perdeu o rumo. Na verdade, até sabemos porquê. Como tantas vezes em Rivette, tudo começa para as personagens pelo coup de foudre (amor à primeira vista). Pelo boy meets girl, insistimos. Apaixona-se Vittorio por Kate quando esta o convida para o show? Apaixona-se ele pela vida do circo, “o lugar mais perigoso do mundo, onde tudo é possível”?"
"Quando estas suspeitas se levantam, já fomos apresentados a outros elementos da companhia, ou seja, já entrámos no mundo do espetáculo. Em Rivette, o espetáculo é sempre uma espécie de seita que deseja em segredo mudar o mundo sem que o mundo se aperceba. Fica tudo en cachette. Esse circo, tão caro a Chalin e a Tati, é um teatro em que nem os clowns são particularmente dotados, nem os seus números particularmente divertidos. Descobrimos esses números um a um — sobretudo aquele que mete pratos partidos e revólveres que pregam sustos —, pouco a pouco, ao longo da narrativa: e assim se descobre o âmago de cada personagem. Esse teatro é o carrossel da vida de Renoir e de Ophüls — aliás, este filme podia ser um cruzamento entre “Le Déjeuner sur l’Herbe” e “Lola Montès”. O carrossel em que “um palhaço é maquilhagem, nada mais. Um bocado de tudo e muito de nada”. E o carrossel da vida, aqui, só tem um nome: chama-se cinema."
"Mas há muito mais do que uma homenagem ao cinema em “36 Vistas do Monte Saint-Loup”: há o amor, a arte e o amor pela arte. Uma felicidade sombria e uma melancolia alegre — é neste ambiente que se aprende a viver, este filme não fala de outra coisa. Há também fantasmas do passado, princesas enfeitiçadas — e Kate bem poderia ser uma delas, a precisar de um príncipe que é seguramente Vittorio."
"Rivette, um dos pilares da Nouvelle Vague, pode ainda fazer mil filmes, reais ou sonhados, no tempo de vida que lhe resta. “36 Vistas do Monte Saint-Loup” não é um testamento. Contudo, sentimos que este filme encerra qualquer coisa. A sua iluminação tem uma aura solene. É um adieu à la scène e, em simultâneo, uma glorificação magistral da representação. Parece um ‘pequeno Rivette’, mas voa nas alturas." Francisco Ferreira, Expresso de 23/10/2010