18.10.10

Tamara Drewe
Título original: Tamara Drewe
De: Stephen Frears
Argumento: Moira Buffini
Com: Gemma Arterton, Roger Allam, Bill Camp, Dominic Cooper
Género: Comédia, Drama
Classificação: M/12
GB, 2010, Cores, 111 min.

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"O que podemos fazer senão rir? Naquela aldeia de Ewedown, perdida num sítio nenhum onde nada alguma vez acontece, uma jovem jornalista, Tamara Drewe, que escreve uma coluna sobre si própria, volta à terra natal e vem muito diferente de que quando partira, anos atrás. Traz, nomeadamente, um nariz novo (ela que tinha um rosto onde quase mais nada se via quando se via a protuberância que tinha ao meio) e uns shorts tão justos que não há homem que não fique com ideias. Um deles nem precisa verdadeiramente disso para as ter, pois Nicholas Hardiment, bem sucedido autor de romances policiais, parece encontrar por baixo de cada saia um motivo para perseverar num longa carreira adulterina. É ele o dono e anfitrião de Stonefield, mansão que acolhe escritores com vontade de fugir da multidão e do bulício das grandes cidades. Mas por trás de Hardiment — e dos seus livros — há a mulher que vai servindo de trave mestra de Stonefield e da vida dele e que está mesmo à beira de atirar tudo ao ar. A vida corre plácida quando duas miúdas, fartas do marasmo, resolvem imiscuir-se no computador de Tamara e enviar a três homens distintos um e-mail de amor muito fremente, em nome dela. Daí à floresta de enganos, é um fósforo e todas as curvas da existência começam a carrilar em velocidades muito pouco usuais."

"Dotado de uma energia muito particular, “Tamara Drewe” encaixa como uma luva na vertente britânica e terra-a-terra de Frears, porventura menos conhecida que os seus filmes americanos, mas muito mais estimulante. A vertente que nos deu “O Puto” (1993), “A Carrinha” (1996), “Alta Fidelidade” (2000) ou mesmo “A Rainha” (2006) onde, para lá de um mínimo esboço realista, circula uma vitalidade estridente e uma enorme compreensão humana. Mas também a autenticação da estupidez e da crueza que pode atravessar a existência — em “Tamara Drewe” há um esquisso de assassínio e alguém que morre no meio da lama e do esterco. O final do filme é, entre um esboço de happy end e um simulacro de justiça divina por caminhos menos recomendáveis, a constatação de que, apesar de tudo, a possibilidade de felicidade vai-se manter — a estupidez também."



"“Tamara Drewe” começou por ser uma novela gráfica assinada por Posy Simmonds e publicada pelo jornal londrino “The Guardian”, em 2005/2006. Era uma sátira, inspirada num célebre romance de Thomas Hardy (“Far From the Madding Crowd”), dotada de um estilo desglamourizado, com um traço simples em que os rostos e corpos estavam mais perto da caricatura do que de qualquer vontade realista, tinha como alvo um certo estilo de vida provinciano, campestre, e uma linguagem onde o humor tem lâminas e cinismo não falta. Frears foi bastante fiel na adaptação, seguindo a história praticamente a par-e-passo, mas dotando-a, plasticamente, de uma riqueza cromática, um brilho que o pincel original de Posy Simmonds não possuía. E dotou os personagens de carne e osso, tornando-os muito mais vívidos do que no papel. Mérito de Gemma Arterton (a enleante protagonista), Roger Allam (Hardiment, para quem ser escritor é cultivar a mentira), Dominic Cooper (uma inestimável hipótese de vedeta-rock) ou Jessica Barden e Charlotte Christie (as miúdas que veem a vida andar sem elas lá dentro e resolvem fazer qualquer coisa)." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 02/10/2010