2.12.10

Os Miúdos Estão Bem
Título original: The Kids Are All Right
De: Lisa Cholodenko
Argumento: Lisa Cholodenko, Stuart Blumberg
Com: Annette Bening, Julianne Moore, Mark Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh Hutcherson
Género: Comédia, Drama
Classificação: M/16
Estúdios: Antidote International Films Inc., Mandalay Entertainment, UGC
EUA/FRA, 2010, Cores, 105 min.

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"Um casal de lésbicas de meia-idade tem dois filhos, um de cada progenitora, ambos concebidos por inseminação artificial do mesmo dador. Os miúdos, adolescentes, rapaz e rapariga, ela à beira de sair de casa para a universidade, ele um pouco mais jovem, começam a interrogar-se sobre a identidade paterna e conseguem que o banco de esperma identifique o dador. O casal de lésbicas é interpretado por Annette Bening e Julianne Moore, e o homem, que nem sonha que tem descendência pela vizinhança, tem o rosto de Mark Ruffalo. Acabam todos por se conhecer e relacionar, há sarilhos no inevitável destino próximo."

"Contada assim, a trama de “Os Miúdos Estão Bem” parece banal. O problema está na minha prosa, é claro, que não faz justiça ao que está no filme. É que o que nele maravilha não é a trama genérica, são os detalhes, os fios da narrativa que se quer tão naturalista que quase se diria documental, se tal fosse possível. É a maneira como uma família homossexual transporta consigo exatamente os mesmos problemas (insegurança, ressentimentos, desconfianças, traições, ridículos, preconceitos) que uma família hetero, tal como congrega símiles virtudes (o calor dos afetos duradouros, o arrimo protetor contra as intempéries da existência). É o modo como se desenham as trajetórias dos personagens, todos em anseio de uma felicidade e de um equilíbrio que não é possível repartir em igualdade — há sempre perdedores no caminho... É o cheiro da terra, o sabor do vinho, o suor depois do sexo, o risível que acompanha muitas das coisas do amor, matérias que o filme convoca e quase nos convence que permite experimentar ao vê-lo. É uma realidade representada sem distância — como, dizem, se quer nas telenovelas, e, por isso, todos os que as fazem deveriam fazer fila para ver “Os Miúdos Estão Bem” e perceber como é. Porque não há nada de menos natural que o naturalismo no cinema (ou na televisão), onde, evidentemente, é tudo a fingir."



"Veja-se a construção meticulosa dessa realidade nos espaços cenográficos, nos lugares da câmara, nos tempos (a sequência em que a filha mais velha vai para a universidade, desde a preparação das malas até à cena em que entra na residência universitária e, de súbito, descobre a sombra de uma possível solidão, é de uma perfeição insuperável). Veja-se o trabalho dos intérpretes deste filme, o portento de encontrar atrizes à roda dos cinquenta que não sonegam rugas, antes as exibem com o brio de nelas se trazer vidas para as personagens, a maneira como roupas comuns e cabelos que parece não terem nada de especial se adequam e significam traços de personalidade, linhas dessas vidas. Veja-se os diálogos, onde há uma sapiente harmonia entre falas comuns e agulhas de ironia (alguma crueldade na personagem de Annette Bening é nisso fundada). E veja-se, sobretudo, a independência de não fazer caminhar a narrativa para o terreno dos lugares-comuns, das previsibilidades. Até nisso, Lisa Cholodenko é fiel à realidade, pois a previsibilidade, como se sabe, é mais coisa dos filmes que da vida." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 20/11/2010