O Preço da Traição
Título original: Chloe
De: Atom Egoyan
Argumento: Erin Cressida Wilson
Com: Julianne Moore, Liam Neeson, Amanda Seyfried, Max Thieriot
Género: Drama, Romance, Thriller
Classificação: M/12
Estúdios: Studio Canal, The Montecito Picture Company
EUA/FRA, 2009, Cores, 95 min.
Título original: Chloe
De: Atom Egoyan
Argumento: Erin Cressida Wilson
Com: Julianne Moore, Liam Neeson, Amanda Seyfried, Max Thieriot
Género: Drama, Romance, Thriller
Classificação: M/12
Estúdios: Studio Canal, The Montecito Picture Company
EUA/FRA, 2009, Cores, 95 min.
"O que é que se compra quando se usam os serviços de uma prostituta? Sexo, o corpo — dirão os que têm da libido uma noção fisiológica. Mas os que sabem que o sexo é, antes de tudo, una cosa mentale, responderão que o que se compra é uma ilusão, uma ficção, no melhor dos casos, uma história, algo que abrace o imaginário e faça a carne incendiar-se."
"A protagonista de “O Preço da Traição” (Chloé/Amanda Seyfried) é uma prostituta de luxo que sabe isso, afirma-o, de resto, a seu jeito, na sequência inicial do filme. Não o sabe a outra mulher do filme (Catherine/Julianne Moore) que lhe aluga os préstimos na intenção de testar a fidelidade do marido (David/Liam Neeson) e que, errónea, pensa que lhe freta o corpo. Errónea e reincidente, da primeira vez em que quer asseverar-se de que o marido é inconstante, da segunda em que se mete na cama com a rapariga. Com consequências, claro. É que, no primeiro tempo, a contratada supõe que o que agradará à contratante é a confirmação de expectativas e no segundo supõe que não está sob nenhum entendimento financeiro. As duas outorgantes de tão peculiar arranjo vão aprender, com dor, que a verdade é sempre mais determinante que a verdade da ilusão. Uma acabará a ser troféu da outra, como é timbre de uma sociedade dividida entre quem contrata e quem vende a força de trabalho. E nós a servir de impotentes testemunhas."
"“O Preço da Traição” é um remake americano do francês “Nathalie”, escrito e realizado por Anne Fontaine, por cá exibido em 2004, e, em relação com o seu modelo, traz algumas modificações de argumento que não são de somenos importância. Com efeito, enquanto para “Nathalie” o essencial da trama é a infidelidade do protagonista masculino (e, por isso, o clímax do filme ocorre na cena em que os três personagens principais se encontram), em “O Preço da Traição” as coisas jogam-se em termos de poder — o poder do dinheiro, do sexo, da ilusão — eo conflito só se resolve quando há quem ganhe e perda, sem remissão. Isso põe o filme de Egoyan num patamar diferente do simples drama burguês. Para Anne Fontaine, o cerne da questão é a cruel indiferença a que um casamento se pode reduzir. Egoyan ocupa-se mais de fantasmas, da autonomia que eles ganham quando os pomos na nossa vida, do fascínio que isso é e dos perigos que isso traz. Afinal, esse é o reino privilegiado deste realizador canadiano de origem arménia que, pelo menos desde “Exótica” (com um homem viciado em frequentar uma executante particular de lapdance num bar noturno) não tem cessado de interrogar os corredores do desejo e das suas inconfessabilidades (como em “A Viagem de Felícia” ou “Onde Está a Verdade?”) nos territórios de poder. E de culpa — dirão os que se lembram desse filme assombroso que era “O Futuro Radioso”, onde a libido e toda a esperança eram afogadas numa tragédia absurdamente sem responsáveis."
"Mas Egoyan é, também, um cineasta que marca pelas componentes estéticas da imagem (lembramo-nos das cores, dos espaços, da composição...) e “O Preço da Traição” não foge à regra. Veja-se a arquitetura interior da casa do casal protagonista, de uma beleza rasgada, quase fria, mais casulo de solidões que habitáculo familiar. Ou as tonalidades do bar onde Chloé e Catherine se encontram ou do quarto de hotel onde a primeira introduz à segunda o leito enrodilhado onde, narra, David estivera, do negro pétreo onde se urdem as tramas, ao amarelo quente onde elas culminam. Tudo a enquadrar um modelar triunvirato de intérpretes onde, concedam-me, destaco Julianne Moore que, nestes dias é, depois de Meryl Streep, a maior atriz de cinema que conheço." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 08/01/2011