23.2.11

Indomável
Título original: True Grit
De: Joel Coen, Ethan Coen
Com: Jeff Bridges, Matt Damon, Josh Brolin, Hailee Steinfeld
Género: Western
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2010, Cores, 110 min.

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"Uma jovenzinha está decidida a castigar a morte do pai e contrata um velho marshall para ir no encalço do seu assassino. Interessado na captura do foragido está também um ranger do Texas, território onde ele é procurado. E os três lá vão. O que ela não sabe é que vai pagar um preço demasiado alto por esse ímpeto de vingança. No território do velho Oeste americano, lá onde a fronteira abre caminho a todas as aventuras e sonhos, os Coen encontram cansaço e desordem e uma rapariguinha que parece ter todo o futuro do mundo até que o fim do filme nos desfaça as ilusões. Com um ator excessivo (Jeff Bridges), outro em trabalho de composição afetada (Matt Damon) e uma revelação que tinha os 14 anos da personagem quando fez a fita (Hailee Steinfeld, a quem queremos ver muito mais vezes) e já está nomeada para um Óscar. “Indomável” tem, de resto, mais nove nomeações para os prémios da Academia e, nos Estados Unidos, é um alentado êxito de bilheteira (mais de 150 milhões de dólares, and keep counting...). Quem disse que o público já não gosta de westerns?"

"Desde “Sangue por Sangue” que sabemos que o cinema dos irmãos Coen é um cinema em que, a todo o momento, se sabe que o filme sabe que é apenas um filme. Essa autoconsciência que é uma marca de modernidade fez com que a travessia pelos géneros que a sua longa obra cinematográfica quase assumiu como tarefa sistemática fosse também um trabalho de revisão, reinterpretação dos códigos do cinema clássico — sempre com o humor como ácido pronto a dissolver a suspensão da desconfiança que o cinema da transparência pressupõe. Ao mesmo tempo, os Coen fazem filmes onde a brutalidade da violência e a intensidade das emoções vai de par com a distância operada por uma ficção autoconsciente. É um jogo fascinante que, aqui e ali, se desequilibrou e fez apenas paródias — “Irmão, Onde Estás?” (2000), “Crueldade Intolerável” (2003) — mas que, quando funcionou plenamente, nos deu estremecimentos memoráveis de que “Este País Não É para Velhos” (2007) terá sido o mais notório."

"Que Joel e Ethan Coen chegassem ao western era quase uma coisa inscrita nas estrelas. Seria difícil que estes estilistas do revisionismo não se abeirassem, um dia, do mais mítico dos géneros do cinema clássico, aquele onde se funda a saga matricial da própria América. Curiosamente, “Indomável” é o remake de um filme (“Velha Raposa”, 1969) que já era uma assumida quase-paródia (deu a John Wayne um Óscar que ele já tinha merecido há muito tempo). E se, então, as proezas do herói (um marshall velho, alcoolizado e zarolho) eram para ver com um sorriso e nostalgia (Wayne estava a chegar ao fim), agora a distância entre nós e a ação esticou-se ainda mais. Estamos a ver o simulacro de uma ficção codificada — e que prazer olhar os cenários, o elenco, a fotografia, a respiração dos movimentos de câmara! Todavia, só nós é que sabemos que tudo aquilo já acabou há muito, os personagens ainda se levam minimamente a sério. Pelo menos enquanto dura a perseguição ao foragido, com toda a permissividade aos efeitos de realismo que o passar dos tempos deve, como consequência, acrescentar (nos velhos westerns, os corpos tombavam sem mais, agora é possível que o sangue espirre, que os abatidos não se quedem pacificamente mortos, mas estertorem, demorem a morrer). Nesse período, entre o começo de quase-comédia e o desfecho em forma de ocaso, ainda se vislumbra aventura e a ferocidade pode atingir-nos."



"Mas o que eu gosto mais neste filme adulto é o sentido trágico, a irrisão, essa melancolia que o cinema dos irmãos Coen sempre nos deixa nos olhos e que aqui é tão triste que não me admirava nada que deixasse correr uma ou outra lágrima por aí." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 19/02/2011