4.4.11

Homens de Negócios
Título original: The Company Men
De: John Wells
Com: Ben Affleck, Tommy Lee Jones, Chris Cooper, Maria Bello, Kevin Costner
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2010, Cores, 104 min.

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"Quando uma empresa estremece com a depressão de 2010, o que fazer para equilibrar contas e manter as ações em cotação alta? Downsizing, dizem os gestores, naquela terminologia anglófila que tão bem conhecemos. Isto pode querer dizer várias coisas mas, usualmente, o ‘emagrecimento’ significa cortar produção ou deslocalizá-la, pôr a tónica no terreno financeiro e diminuir custos, cortar na despesa — despedimentos. Nada que nos seja estranho."

"“Homens de Negócios” é, portanto, um filme que fala de desemprego. Não exatamente nos escalões inferiores da escala produtiva, mas nos quadros executivos. Um belo dia, Bobby Walker (Ben Affleck) chega ao escritório de Porsche, vangloriando-se da performance que fizera no seu golfe matinal, vê toda a gente com cara de caso (“morreu alguém?”) e descobre em poucos minutos que está despedido. Ele pertence ao escalão dos americanos que ganham mais de 100 mil dólares por ano, tem uma experiência profissional sólida, a verdade é que não se preocupa em excesso, nem encara a hipótese de fazer, ele mesmo, um ‘emagrecimento’ no seu orçamento doméstico e no seu estilo de vida. A princípio, acha que lhe será fácil encontrar outro emprego. Depois começa a ver que as coisas não são o que pensava. A realidade começa a revelar uma profunda crueldade e hipocrisia."

"Outros altos quadros da mesma empresa são despedidos nos meses seguintes, como Phil Woodward (Chris Cooper), que ali começara como operário, horas e horas de cabeça para baixo a trabalhar no estaleiro naval, antes de ir subindo a pulso na hierarquia da empresa até ficar muito perto do topo. Até o vice-presidente, acionista e fundador da companhia, Gene McClary (Tommy Lee Jones), um homem que tem saudades do tempo em que aquela empresa produzia coisas palpáveis — navios — antes de ter sido engolida pelas prevalências financeiras, é dispensado quando se confronta com o CEO por divergências estratégicas. São as leis do poder, as leis dos mercados, como agora se diz."

"“Homens de Negócios” não é uma história deprimente — o fim do filme é um reganho da esperança, muito à americana, embora as imagens dos estaleiros abandonados (não são efeitos especiais, são estaleiros mesmo) nos lembrem que o problema do abandono da produção industrial, deslocalizada para todas as ‘chinas’ do planeta, em nome de uma terciarização financeira do tecido laboral no Primeiro Mundo, não é ficção, é a nossa vida. Mas antes dessa hipótese de epifania, há o calvário (há mesmo quem morra na depressão de já não servir para nada e ter vergonha disso), há a aprendizagem penosa da realidade (Bobby a vender o Porsche, a casa, e a ter de voltar, com a família, para casa dos pais, a ter de aceitar um emprego como trabalhador manual que o cunhado, pequeno construtor civil, lhe oferece, ou o filho a devolver a X-Box à loja por saber que o pai não está em condições de lhe pagar a prenda). E não são operários, esses têm infinitamente menos almofadas sociais, sussurra-se, às tantas, lá para o meio do filme."



"Entendamo-nos: “Homens de Negócios” não é um filme memorável, não tem soluções de mise en scène que empolguem, nem um argumento especialmente engenhoso. Tem bons atores e pratica uma transparência narrativa a toda a prova. John Wells não é um autor. É provável que os amantes radicais de um cinema puro torçam o nariz — cheira-lhes mal ou sabe-lhes a déjà vu. Compreende-se, não importa. Aquilo de que “Homens de Negócios” fala é de uma premência vital, e, muitas vezes, o cinema também pode e deve ser uma forma de encontrar a vida, apesar de sabermos que o muito bom cinema é bem maior que a vida." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 19/03/2011