Hanna
Título original: Hanna
De: Joe Wright
Com: Saoirse Ronan, Eric Bana, Tom Hollander, Cate Blanchett
Género: Thriller, Acção
Classificação: M/12
Outros dados: EUA/ALE, 2010, Cores, 111 min.
Título original: Hanna
De: Joe Wright
Com: Saoirse Ronan, Eric Bana, Tom Hollander, Cate Blanchett
Género: Thriller, Acção
Classificação: M/12
Outros dados: EUA/ALE, 2010, Cores, 111 min.
"Quando, logo no início do filme, vemos Hanna (Saoirse Ronan) numa correria em caça de veado — e tudo à volta é branco e gelado — percebemos, no arfar, na subtileza, na destreza com que Joe Wright a filma, que este não é um filme de ação simples e sumário, com pipocas no programa e adolescentes nos lugares. Logo a seguir, perceberemos que ela vive em isolamento, com o pai, há demasiados anos (mas ela só tem 16 de idade), e que ele a anda a treinar para sobreviver a assassinos que, ele sabe, hão de vir — ou para matar quem se lhe atravesse à frente. Eric Bana é esse pai que, havemos de saber, foi agente da CIA e anda fugido desde que a mãe dela foi morta. Não tem pressa e prepara-a, amorosamente, até ao dia em que esteja pronta. E, como se de um protocolo de iniciação erótica se tratasse, há de ser ela a mostrar-se disponível, a entregar-se nos braços do confronto, acionando um mecanismo de localização que indica onde ela está. Pelo mundo correrá um sinal que a central dos agentes secretos receberá. Depois, só resta esperar o encontro com a mulher que esteve na origem de todos os males — Marissa, dirigente da CIA e alma tão danada e tão negra que passamos o tempo todo a desejar que seja eliminada da face da Terra. Diga-se, desde já, que Cate Blanchett é quem lhe dá corpo e éa mais notável coisa que este filme tem lá dentro. E se, como dizia Hitchcock, quanto melhor é o vilão melhor o filme, já se pode ver a que nível “Hanna” quer chegar."
"E, de repente, a ação põe-se em marcha e a adrenalina acelera. Raptada por uma força de comandos e levada para uma instalação secreta sob as areias do deserto marroquino, Hanna vai revelar-se uma destra máquina de matar e fugir em direção ao ponto de encontro que o pai lhe marcara, em Berlim. Para tanto vai atravessar o estreito e percorrer meia Europa, caninamente perseguida por um grupo de sequazes de Marissa. E, enquanto os perigos se adensam e Hanna os vai contornando, o filme vai acrescentando, parcamente, informação sobre aquela jovem, aquela mulher que a quer exterminar e aquele homem a quem a miúda chama pai. Tudo conjugado com a verdade de uma teenager que descobre um mundo completamente novo, tão cheio de mostrengos quanto as histórias infantis dos irmãos Grimm de que ela vai encontrando sucessivos ecos. E tudo mergulhado numa sexualidade difusa, mas permanente, desde a família de veraneantes que a acolhe, aos cantos e danças andaluzes, ao desenho de uma hipótese de sexualidade cruel no personagem de Marissa e, certamente, perversa nos seus cúmplices. Sexualidade, viremos a saber, que é exatamente o que faltou na origem de Hanna, no processo da sua conceção."
"“Hanna” é um filme de ação, é claro que sim, com lutas corpo a corpo, armas de fogo e facas e até arco e flecha como o cartaz exuberantemente mostra. E Joe Wright mostra-se cineasta capacíssimo nesse registo que, para ele, é novo — lembremos que a sua fama vem de territórios muito diferentes dos que aqui pisa, “Orgulho e Preconceito” (2005) e “Expiação” (2007). Assim sendo, não há qualquer razão para que os apaniguados deste tipo de cinema não encontrem agrado neste filme. Mas “Hanna” quer também experimentar a complexização, os matizes, as derivações. Como a continuada referência às histórias de encantar (da abertura do filme, ao clímax num parque de diversões abandonado) que permite ler “Hanna” como uma variação sobre a saga de Alice num país que está longe de ser de maravilhas. Ou a coreografia planeada das cenas de ação, em que os nossos olhos seguem uma dança que a música não comanda (e deste ponto de vista, não faltam momentos em que apetece aplaudir, desde logo a longa sequência com os contentores). Quer dizer, não há razão, também, para que os que gostam de cinema não se apressem a vê-lo. Os filmes de ação não têm que ser idiotices comandadas por tã-tãs — a prova está aqui." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 09/07/2011