20.10.11

Contágio
Título original: Contagion
De: Steven Soderbergh
Com: Marion Cotillard, Matt Damon, Laurence Fishburne, Jude Law, Gwyneth Paltrow, Kate Winslet
Género: Drama, Thriller, Suspense
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2011, Cores, 107 min.

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"Ao princípio nem se sabe bem como é que aquilo aconteceu: um vírus com património genético de morcego e de porco começa a provocar tosse, febre, convulsões e, eventualmente, a morte em 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128 pessoas — e a progressão não para —, numa cidade, num continente, no mundo. Não há remédio certo para o combater, apenas paliativos com uma taxa de ineficácia horrivelmente alta. Os cientistas tentam desesperadamente descobrir uma vacina enquanto a epidemia cresce, as pessoas se fecham para evitar o contágio e a sociedade se desorganiza. Há pilhagens, há motins, os hospitais rebentam pelas costuras, põem-se cidades inteiras em quarentena, os militares são chamados para a rua, abrem-se valas comuns, já não há tempo nem disponibilidade para funerais individualizados. E outra praga se espalha, tão infecciosa quanto a do vírus, a praga da informação desordenada que a Internet propaga e multiplica, sem controlo, sem aferição (talvez nenhum filme até hoje tenha mostrado tão claramente o horror que isso pode ser num momento de crise grave). Um blogger de sucesso proclama que uma mezinha qualquer que uma sua empresa produz evita o contágio — e fica rico à custa da desinformação reinante."

"Steven Soderbergh filma a progressiva instalação de um caos social planetário causado por uma nova doença, nada de muito improvável. Não é uma história de conspiração, não há forças tenebrosas a manipular na sombra, não há segredos militares ou de segurança nacional, é apenas uma história de fragilidade humana face a uma Natureza sem rosto que, evidentemente, não nos ama — é cega, sem sentimentos e sem moral. “Contágio” não é um thriller policial ou de espionagem, tem a frieza e o didatismo de um documentário (vejam-se todas as cenas onde simples contactos humanos ou com objetos infetados propagam indefinidamente a pestilência). Pode-se chamar ficção científica, porque ficciona a ciência e é credível nesse trabalho. Talvez por isso seja tão inquietante a morte em trabalho de ceifa ante a impotência de todos."

"O que fazem tantos nomes sonantes (Gwyneth Paltrow, Matt Damon, Kate Winslet, Laurence Fishburne, Jude Law, Marion Cotillard, Elliott Gould...) no campo dos intérpretes de “Contágio” — alguns com papéis que são quase aparições amigáveis? Antes de tudo, criam um efeito de estranheza: habituados a que nomes com aquela grandeza assumam lugares protagonistas, procuramos em cada um deles a liderança, a locomotiva que leve a ficção atrás de si. Depressa descobrimos, contudo, que, no meio de uma tragédia como a que o filme aborda, não há heróis, todos são agitados num turbilhão de onde sair vivo não depende da importância do nome nos cartazes. As vedetas também morrem neste filme, dirigido pelo menos previsível dos cineastas americanos. E se Matt Damon anda por lá, do princípio ao fim, tentando evitar que a filha entre no rol dos infetados, é apenas porque a lei das probabilidades o tornou imune, ninguém percebe porquê, não é porque tenha um poder qualquer. De resto, a imunidade só ajuda a que não morra, não o põe a resgatar o mundo, pobre dele..."



"“Contágio” não é um filme-veículo para vedetas (como “Ocean’s Eleven — Façam as Vossas Apostas”) nem um filme de arte e ensaio puro e duro (como “Bubble”), os dois limites entre os quais tem oscilado a obra de Soderbergh. É um filme-catástrofe sem ceder um cisco à espetacularidade de que Hollywood gosta. Chama-se realismo — e é muito bem feito." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 15/10/2011