9.10.11

O Hospício
Título original: The Ward
De: John Carpenter
Com: Amber Heard, Mamie Gummer, Danielle Panabaker, Jared Harris
Género: Terror
Classificação: M/16
Outros dados: EUA, 2010, Cores, 89 min.

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"Se descontarmos os dois episódios que “Big John” realizou para a série “Masters of Horror”, já não tínhamos novidades do grande Carpenter há uma década, desde essa trip espacial de junkies galácticos (mas quase ninguém se comoveu com a toxicodependência...) chamada “Fantasmas de Marte”. Nessa altura, Carpenter sentiu-se um bocado queimado pelo movie business. E farto, sobretudo. Chegou a afirmar estar mais preocupado com os resultados da NBA (é grande fã dos Lakers) do que com o mundo do cinema e lá foi ele para o seu cubículo. No novo filme, “The Ward” (“O Hospício”), a fasquia desce uns pontinhos (mas não muitos). O projeto parece vir todo ‘escrito do papel’, com menos espaço para a folia. Recorda, em parte, alguns episódios da “Masters of Horror” e não é só por isso, nem pelo digital HD, que à partida parece um Carpenter mais televisivo. Estamos nos anos 60 quando somos apresentados a Kristen (Amber Heard), uma bela loira que é internada num hospital psiquiátrico depois de ter posto fogo a uma quinta. No hospital, Kristen, além de encontrar outras raparigas tão ‘talentosas’ como ela, começa a ter encontros inexplicáveis com um fantasma e começa a recear que, dali, ninguém mais sairá com vida. E, como boa carpenteriana que é, trata de esclarecer as coisas, mesmo que o esclarecimento, aqui, não seja mais do que um novo ciclo de alucinação (e mais não contamos, até porque, de resto, lá para o fim há um twist). Nada a ver, portanto, com a seriedade de um “Voando Sobre um Ninho de Cucos” — até porque, da seriedade, Carpenter costuma ser o primeiro a rir."

"“O Hospício” é um daqueles filmes que ‘custam a entrar’, sobretudo para quem conhece bem o trabalho de quem o assina. Parece irremediavelmente menor naquela constelação. Horror e fantasmas em manicómios não é propriamente coisa que escasseie no cinema americano e o filme de Carpenter também não se importa de pregar mais um prego no caixão, socorrendo-se de estereótipos batidos. Fica-se por aí? Não. Kristen resgata-o da mediania pela interpretação de Amber Heard. Ela é uma dessas personagens carpenterianas que já foram ao inferno e voltaram para contar, não tem medo de nada (nem mesmo de perder a sanidade), não se deixa quebrar pelas aparências (e este filme está cheio delas), conseguindo fazer evoluir a narrativa no terreno de um thriller psicológico, matrizado e eficiente. Neste ponto, Kristen entra diretamente para a galeria de heroínas do cineasta onde estão Jamie Lee Curtis, Adrienne Barbeau ou Natasha Henstridge. Há muito que sabemos, graças a Carpenter, que a perda de tino, venha ela de um desgosto amoroso, do medo da morte ou de influência alienígena, é coisa que a cabeça inventa e potencia. O maior inimigo dos seus heróis está neles próprios. Posto isto, “O Hospício”, embora não possa ser colocado a par de obras-primas como “Halloween” ou as duas “fugas” (a de New York e a de Los Angeles), também não envergonha a ascendência. Será exibido em antestreia nacional no MOTELx — e isto leva-nos para outras conversas."



"O MOTELx é um dos festivais portugueses mais interessantes, e talvez seja mesmo o mais claro de objetivos, o mais equilibrado entre meios e fins." Francisco Ferreira, Expresso de 03/09/2011