21.3.12

J. Edgar
Título original: J. Edgar
De: Clint Eastwood
Com: Leonardo DiCaprio, Naomi Watts, Judi Dench, Armie Hammer
Género: Drama, Biografia
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2011, Cores, 137 min.

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"Como é que o criador de “Dirty Harry” se encontra com o argumentista de “Milk”? Como é que o conservador Clint Eastwood trabalha com o ativista gay Dustin Lance Black? É que a vida é feita de muito mais matizes do que pensam os enunciadores de generalidades. E eis um biopic do patrão do FBI ao longo de mais de trinta anos, o mais temido americano do século XX, construído a partir da intimidade e muito, em particular, da sua natureza homossexual — ao ponto de esta ser o cerne do filme. Veja-se o interdito que a mãe lhe lança (a severa Judi Dench, em mais um dos seus papéis secundários — galeria inolvidável), veja-se a antológica cena de ciúmes entre Hoover e o seu n.º 2, herdeiro e companheiro (Clyde Tolson/armie Hammer) que se desenvolve em briga e termina em beijo, veja-se o gáudio malsão com que ambos observam as provas das ligações lésbicas de Eleanor Roosevelt ou a forma como o J. Edgar Hoover despreza as evidências libidinosas de um alto personagem político sujeito a escuta e devassa (alusão a Kennedy e Marilyn que o realizador sinala com o emblemático riso coquete da atriz) e perceba-se que o olhar de Clint Eastwood não parte da rua e da História, parte dos interiores e do não-dito."



"A imagem que o filme deixa de Hoover é a de um homem profundamente intranquilo quanto à sua identidade e muito preocupado com a sua pública representação, menos odioso que digno de uma retrospetiva piedade, mais triste que trágico — mas que não se pode evitar quando se pensa no século XX americano. Nem Clint Eastwood, nem Dustin Lance Black gostam dele, nem sequer Leonardo Dicaprio que apaga o seu próprio brilho para nos dar um personagem baço, entortado, nem herói nem vilão — eminência parda." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 04/02/2012