18.4.12

Declaração de Guerra
Título original: La Guerre Est Déclarée
De: Valérie Donzelli
Com: Valérie Donzelli, Jérémie Elkaïm, César Desseix
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: FRA, 2011, Cores, 100 min.

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"“Declaração de Guerra” começa com uma mãe a conduzir um miúdo de oito anos a um exame radiológico num hospital. Depois o filme muda completamente de direção e narra o encontro, a paixão e o nascimento de um bebé a um jovem casal. Logo vêm as perturbações que causa na vida deles a irrupção da criança e, um pouco mais para diante, logo defrontam um obstáculo verdadeiramente grave: um tumor no cérebro é diagnosticado no miúdo, aos dezoito meses. A partir daqui, “Declaração de Guerra” transforma-se num drama lancinante. Não é, todavia, uma avalanche – aquele casal não se defronta com a morte de um filho, mas com uma tarefa longa, penosa, desgastante, anos a fio de toda a vida centrada numa criaturinha numa cama de hospital."


"O filme não é um terramoto emocional, o espectador sabe, daquela cena inicial, que a criança sobrevive. Também não é um gesto de piedade por um miúdo de tenra idade – há o bom senso de nunca explorar o sofrimento de quem está doente e os fáceis sentimentos do público. Antes, fala do abalo que a situação causa no pai, na mãe e no casal como entidade de partilha de sentimentos, eventualmente da destruição de laços ante a insuportabilidade da aflição, do descontrolo face ao destino e, muito em especial, da corrosão que um quotidiano que nenhum deles deseja introduz na sua relação. E fá-lo de uma maneira equilibrada, consciente das sensibilidades que se podem ferir, usando os mecanismos do cinema de um modo que tem um pendor documental e um apelo de ficção – e as vertentes ponderadas com sensatez."

"Veja-se tudo o que diz respeito às estruturas hospitalares, de um ponto de vista físico e burocrático, que parece de quase documentário; veja-se o encontro entre os dois protagonistas na discoteca, ou a correria dela pelos corredores do hospital até ao desfalecimento, coelhos tirados da cartola de um ficcionista. Em qualquer caso, assinale-se o sentido das proporções que sempre se revela, nunca deixando o filme descarrilar para qualquer das facilidades que a sua dramática história propiciaria. Esse sentido de medida – a que também se pode chamar pudor – tem, provavelmente, tudo a ver com o facto de os criadores de “Declaração de Guerra” falarem de algo que lhes é próximo, na realidade, falarem de si próprios."

"Aqueles atores que vemos no filme (Valérie Donzelli e Jérémie Elkaïm – o casal protagonista) viveram mesmo uma situação assim e o miúdo de oito anos que nele aparece (Gabriel Elkaïm) é o filho de ambos que conseguiu a remissão de um cancro no cérebro. Mais: escreveram o argumento em parceria e Valérie Donzelli é a realizadora. Todavia, sempre declararam que não se quiseram expor em primeiro grau e que o filme é inspirado nos acontecimentos autobiográficos, mas, a partir do momento em que o decidiram fazer, se tornou num trabalho de construir uma história que agradasse ao público."



"“Declaração de Guerra” chega-nos depois de ter tido honras de abertura da Semana da Crítica do Festival de Cannes de 2011 e uma boa receção de público nas salas francesas. Mas terá sido essa vontade de agrado que levou ao happy end delicodoce que esteve prestes a pulverizar o capital acumulado durante os quase cem minutos que o antecederam? É bem possível. A final de contas, a narração em off diz que eles saíram destruídos da provação, mas o filme exime-se de o mostrar." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 25/02/2012