23.4.12

Tabu
Título original: Tabu
De: Miguel Gomes
Com: Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira, Carloto Cotta, Isabel Cardoso, Ivo Müller, Manuel Mesquita
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: BRA/POR/ALE/FRA, 2012, Cores, 118 min.

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"De “Tabu”, não se contará mais nada. Às vezes é melhor ficarmos por um só aspeto, obsessão que ficou desde que vimos o filme pela primeira vez: porque olham Ventura e Aurora para a câmara? Porquê? Será que Aurora e Ventura, na segunda parte do filme, vêem a câmara? Ou esqueceram-se dela e também do que eles são, do que representam? Aurora, de resto, não gostava de cinema, diz-nos o filme... O que eles são nessa segunda parte, sabemos nós, é um relato em off dito pelo velho Ventura quando Aurora já está morta. De repente, vemo-nos perante um filme que se atreve a descobrir monstruosas figuras nas nuvens e que vai olhar um passado até à extinção do seu olhar, até à cegueira, ousando construir nesse terreno de trevas os alicerces de uma ficção. Não se instalam às tantas os amantes numa casa abandonada, olhando o fogo e tentando ler nele os sinais do destino?"

"Se a segunda parte de “Tabu” parece estar ‘ausente’, quase como se saísse, milagrosamente, do campo da câmara, se essa parte admite figurar o que foi esquecido e corre o risco de acreditar em crocodilos cúpidos (ou no poder do fogo), é porque Miguel Gomes manifesta aqui um desejo: abandonar a história do cinema para a reencontrar pela originalidade dos seus artifícios. Tocar nessa história como se fosse uma novela de aventuras lida pela primeira vez (como o “Robinson Crusoe”, lido por Santa). Ousar figurar um amor entre o viver e o morrer que, afinal, só depende do que mais importa: do investimento de cada espectador no filme. Esta é a provocação maior de “Tabu”: inocente e impenetrável. Aurora e Ventura olham para a câmara, uma, duas vezes, num travelling de dia e num plano fixo de noite, iluminado por uma fogueira. Olham um a um para cada espectador da sala, lá onde estamos, sozinhos, a tentar compreender esse fenómeno cinematográfico que é a vida. “Tabu” assim permanecerá. Escondido no mistério das suas personagens, que nada já podem dizer, só recordar, e em simultâneo presente por nós, pelo que testemunhamos delas, pelo que ficcionamos com elas."



"Muito poucos filmes conseguiram captar esta sensação de tempo. E lá para o fim também nos dirão: “Se a memória dos homens é limitada, já a do mundo é eterna e a ela ninguém poderá escapar.” Uma indicação se deixa a quem decidir acreditar no seu papel nesta aventura. Não vem de nós, mas de um excerto relido por acaso de “Titânia”, da pluma de Cesariny: “Ser fantasma não é como já vem nos filmes. A coisa é outra. Mais esquisita. Maior. Para que venha o fantasma basta abrir uma porta. Para que passe o fantasma basta olhar de repente. É um negócio de olhos e portas. Entra-se para brincar e sai-se morto. Foi destino? É acaso? As portas é que sabem. Entrai, saí, ficai, fazei como souberdes; mas saudai com reverência essa fronteira máxima!”" Francisco Ferreira, Expresso de 07/04/2012