26.5.12

A Pesca do Salmão no Iémen
Título original: Salmon Fishing in the Yemen
De: Lasse Hallström
Com: Ewan McGregor, Emily Blunt, Amr Waked, Kristin Scott Thomas
Género: Drama, Comédia
Classificação: M/12
Outros dados: GB, 2011, Cores, 111 min.



"Que podemos esperar de um filme com o título “A Pesca do Salmão no Iémen” se não tivermos andado a vasculhar sites de cinema na net ou lido a imprensa cinematográfica britânica? Uma comédia desbragada, no reino do disparate, dada a mútua exclusão que termos como “pesca ao salmão” e “Iémen” asseguram? É bem possível. Entretanto, averiguado o nome do realizador (o sueco Lasse Hallström que nunca andou por tal reino) e sabido que há um par protagonista (Ewan Mcgregor, Emily Blunt), logo a nossa intuição muda a agulha — não será uma comédia romântica?""
"Na dúvida, entremos na sala de cinema para deslindar a coisa, fiados, pelo menos, no nome do realizador e dos intérpretes. E vamos vendo o filme e encontrando reconhecimentos e viragens. No princípio, a situação que se cria parece denunciar uma sátira política: um xeque árabe, senhor de propriedades na Escócia e adepto incondicional da pesca ao salmão nos rios de Sua Majestade britânica, decide introduzir salmões, no seu Iémen natal, num projeto que inclui a construção de uma barragem — e pede a uma empresa de consultadoria que lhe trate do assunto. Harriet Chetwode-talbot (Emily Blunt, etérea e pragmática) é encarregada da complexa missão. É assim que o dr. Alfred Jones (Ewan Mcgregor, contidíssimo), funcionário público perito em ambientes aquáticos e nos seres que os habitam, é contactado para dar o seu parecer. O nosso homem, com obra publicada e nenhuma vontade de aceder ao óbvio dislate do multimilionário do petróleo, despede o assunto num e-mail de lacónica ironia. Mas o Governo de Londres está farto que do lado do Afeganistão e países correlativos só venham más notícias. Nada melhor do que apresentar à opinião pública um projeto mútuo de colaboração entre o Reino Unido e o Iémen, visando a paz e o desenvolvimento e tal e tal... Resolve, assim, transformar o salmão no Iémen numa absoluta prioridade. E lá vai o constrangido dr. Jones colaborar na insensatez."
"Só que as coisas não são assim tão simples. Entre o arrumadíssimo dr. Jones e a eficientíssima miss Chetwode-Talbot (é nesses termos formais que eles se tratam um ao outro) começa a surgir o fermento de uma ligação romântica — e o filme parece infletir para esse caminho. Só que o xeque Muhammed não é um nababo com caprichos, é um visionário com uma ideia — e o filme embarca numa espécie de aposta quanto à possibilidade das utopias, é só querer e perseverar. Já não é uma comédia romântica, é um sorriso com os pés em levitação, um palmo acima da terra. Só que há forças políticas radicais nada interessadas em utopias e forças do destino à solta, prontas a contrariar a felicidade. O filme deixa cair um, dois, três pingos dramáticos, alterando, mais uma vez, as expectativas..."
"“A Pesca do Salmão no Iémen” é um filme que desdenha as formatações e prefere evoluir como se dançasse sem se ater aos passos codificados e reconhecíveis. É aprazível na ironia e cerimonial, permite saborosíssimos desempenhos a dois intérpretes secundários (Kristin Scott Thomas na frenética assessora de imprensa de Downing Street que põe tudo aquilo em movimento e Conleth Hill no chefe de Jones, a quintessência do funcionário que sabe escorregar por entre os constrangimentos políticos, ora servil ora maligno). Apresenta fragilidades óbvias, sobretudo na sua parte final, mas o facto de não deixar que o espectador se aninhe no que já sabe e se vá continuamente surpreendendo é um trunfo que merece notícia e aplauso." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 26/05/2012