16.7.12

Magic Mike
Título original: Magic Mike
De: Steven Soderbergh
Com: Channing Tatum, Alex Pettyfer, Olivia Munn
Género: Drama, Comédia
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2012, Cores, 110 min.


 "Tudo começa sob o signo do glamour da noite, quando um espetáculo de strip só para mulheres rebenta ali à nossa frente, com toda a energia de um palco que ferve — e é Matthew McConaughey, surpreendente no movimento e na ousadia, que arranca os primeiros entusiasmos. Mas ele é apenas o boss, o mestre de cerimónias daquela cena provinciana onde — diz-se lá para diante — as mulheres da assistência vão experimentar tocar em corpos que nunca sonharam, mercê de notas de dólar enfiadas nas tangas dos performers. E é mesmo possível algo mais gradual, no fim do espetáculo, com ou sem remuneração, nunca nada fica claro, se as partes assim chegarem a acordo. É Matthew McConaughey quem põe o motor em andamento, mas não é ele o protagonista deste filme muito fora de comum com que Steven Soderbergh vem confirmar (mas nem necessário era) que é homem para todas as estações, o mesmo é dizer para toda a dimensão do cinema, todos os géneros, todas as gamas de produção. O protagonista é Channing Tatum, que, antes de ser ator em Hollywood, foi efemeramente stripper masculino — de momento o grande nome em ascenso no panorama americano e que “Magic Mike” cimenta muito lá em cima. É ele o Mike do título, figura primeira do show que todas as noites põe as mulheres da cidade em gritaria quando sobe ao palco do Xquisite, o bar onde tudo acontece, é ele o líder dos “cock-rocking kings of Tampa”, como se diz lá para diante e eu nem me atrevo a traduzir... Mas Mike não é profissional que se entregue aos ofícios da noite com inteira devoção e fé. Tem outras ocupações e interesses, desde colocar telhados (um dos aspetos mais curiosos do filme é toda a sequência em que é operário da construção civil — que corta com a embriaguez inicial das luzes, da cor, da música) até desenhar cadeiras — o seu sonho como futuro empresário, não fora o facto de os bancos não emprestarem um cêntimo a quem não tem um rendimento permanente e... respeitável. O strip é, assim, fonte de aforro para o protagonista, que, numa outra sequência chave da fita, havemos de ver a passar a ferro as notas enrodilhadas, como quem faz a ‘lavagem’ do dinheiro que as hormonas desenfreadas do público feminino lhe prodigalizou, sem recibos nem imposto de valor acrescentado..."

 "“Magic Mike” não é filme a celebrar a noite e as suas ilusões, é, antes, uma história sobre a circulação de dinheiro, nestes anos de crise, desemprego, escassez de crédito. Soderbergh só está interessado nas luzes enquanto fantasma erótico — e, já agora, enquanto desafio de encenação. Deve dizer-se que a potência, a coreografia, o guarda-roupa, os corpos, a vibração dos números musicais fazem com que este filme mereça estar num lugar muito particular no campo do cinema com música. E, sendo um filme sobre o comércio (de corpos, de fantasias, de erros), tem a carga trágica que envolve sempre aqueles que, como Mike, vendem o que não devia ser vendável — a cada amplexo libidinoso, sempre se entrega alguma coisa que não volta — ou aqueles que, como o jovem Adam (Alex Pettyfer) que Mike toma sob sua proteção e a quem inicia nas lides, julgam que há viagens grátis e de retorno garantido. Por detrás das luzes, melodrama? Sim e excelentemente arquitetado. É que desde a primeira cena que o brilho dos projetores se tempera com sarro. “Magic Mike” está num equilíbrio que parece impossível entre diversas variáveis. Filme para mulheres e para uma franja gay, diz-se. Mas não: filme para quem gosta de cinema, digo eu, não importa o género ou as inclinações particulares." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 14/07/2012