19.9.12

 
Durante este verão houve notícia de um inexplicável, quase milagroso evento no qual uma mancha de ciprestes (Cupressus semprevirens) escapou ao violento incêndio na Comunidade Valenciana, Espanha.

Na verdade este acontecimento nada tem de extraordinário. Existem outras descrições de incêndios nos quais barreiras de ciprestes não arderam ou restringiram o desenvolvimento do incêndio. Tivemos a oportunidade de ver, após um incêndio de 25 mil hectares na Turquia, linhas de ciprestes verdes. Aliás, na Turquia o cipreste é apresentado como a árvore modelo a usar na prevenção de incêndios.
 
A que se deve então este efeito? A três factores distintos:
- a folhada extremamente compacta, por ser constituída por folhas muito pequenas e finas do tipo "escama";
- a enorme redução da velocidade do vento no interior destes povoamentos, devido à densidade das copas, que suprime também o desenvolvimento do sub-bosque;
- e finalmente a humidade do ar substancialmente mais elevada que no ambiente exterior e que consequentemente aumenta a humidade dos combustíveis mortos.
 
Estas características não são exclusivas dos ciprestes, sendo comuns em maior ou menor grau a outras resinosas de agulha curta (cedros, pseudotsugas, e até o pinheiro silvestre). Análises pós-incêndio mostraram alterações do comportamento do fogo muito vincadas na transição do pinhal bravo para estes povoamentos, e estações meteorológicas colocadas fora e dentro destes povoamentos mostraram as diferenças meteorológicas que referimos anteriormente.

No entanto, o efeito alcançado depende também de outros factores, nomeadamente a meteorologia, a posição topográfica e a direcção de propagação do fogo. Dadas as características das copas, as resinosas de folha curta podem suportar incêndios de copa extremamente intensos, caso haja condições para que um fogo de copas se inicie e se mantenha. [aqui]