21.10.12


Frankenweenie
Título original: Frankenweenie
De: Tim Burton
Com: Martin Landau (Voz), Christopher Lee (Voz), Winona Ryder (Voz)
Género: Animação
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2012, Cores, 87 min.



"Começa logo no logótipo de apresentação da Disney, o castelo de fadas a tornar-se negro, enluarado, sinistro — e, depois, vai por ali fora, por toda a memória do cinema fantástico, de que se assume como um admirador indefetível. “Frankenweenie” não é um simples filme, é uma cantata em homenagem a toda uma galeria de filmes de medo que tanto engloba as velhas fitas a preto e branco da Universal nos anos 30 (onde o “Frankenstein” de James Whale e o “Dracula” de Tod Browning se incluem) como o “Godzilla” do japonês Ishirô Honda, que inaugurou um filão situado no coração do pânico do nuclear da década de 50, ou os filmes britânicos da Hammer dos anos 60 (Christopher Lee no ecrã do televisor). E vai até a “Gremlins”, de Joe Dante (1984), e ao próprio “Batman” (1989), que colocou Burton no estrelato — sempre que aparece uma criatura vampírica, o compositor Danny Elfman põe na banda de som identificáveis acordes da marcha que ele mesmo escrevera para esse filme, numa autocitação deveras saborosa. Só que esta homenagem não é feita em tom de academia, em cerimónia, mas como se fosse o produto de um miúdo sobredotado que soubesse tudo sobre aquele cinema, que colecionasse os cartazes no sótão e brincasse aos monstros — num tom alegre, esfuziantemente divertido, a que não faltam estremecimentos emocionais ante a morte, a perda e o oblívio, um pouco como acontecia também no tempo para que o filme olha com nostálgica bonomia, o tempo em que o cinema era jovem e havia filmes cheios de coisas assombrosas, um mundo inteiro de magia a irromper depois de as luzes se apagarem."


 "“Frankenweenie” foi, em 1984, uma das curtas-metragens primitivas de Tim Burton. Produção da Disney, feita com atores de carne e osso (entre os quais Shelley Duvall e a muito jovem Sofia Coppola, então com 13 anos) e um milhão de dólares de orçamento, contava a história de um miúdo (Victor Frankenstein) cujo cão, Sparky, é atropelado e que, mercê da energia elétrica de uma trovoada, consegue que o cadáver da sua mascote volte à vida... para horror de toda a vizinhança. Na época, a Disney considerou essa pequena fita demasiado assustadora para os seus padrões e não a apresentou colada a uma reedição de “Pinóquio”, como estava previsto. Mas Stephen King viu a curta-metragem, gostou muito, passou-a à Warner como cartão de visita de Burton — e o realizador conseguiu o contrato para o seu primeiro filme longo, “A Grande Aventura de Pee Wee” (1985), uma comédia com o seu quê de cartoon. Este filme que agora se apresenta é, em animação stop motion, tal como tinham sido “O Estranho Mundo de Jack” (1993) e “A Noiva Cadáver” (2005), um remake desse pequeno filme primordial, evidentemente com um argumento acrescido de várias peripécias e em particular com a delirante coleção de monstros que as experiências desastradas dos outros miúdos, colegas de Victor, provocam."

"Este regresso de Tim Burton ao cinema de animação com marionetas teve uma longa gestação e é prodigiosamente mais eficaz do que as desmaterializadas imagens digitais a que a animação nos costuma remeter. Aqui há o prazer de encontrar materiais com espessura, verdadeiros (não é irónico que isso seja uma mais-valia no reino do cinema fantástico e artificioso?), e de nos defrontarmos com o núcleo central do universo criativo de Tim Burton, lá onde, de “Eduardo Mãos de Tesoura” a “Ed Wood”, ele se impôs como detentor de uma imagética pessoalíssima e original." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 20/10/2012