6.10.12

Linhas de Wellington
Título original: Linhas de Wellington
De: Valeria Sarmiento
Com: Nuno Lopes, Soraia Chaves, Marisa Paredes, John Malkovich, Carloto Cotta, Mathieu Amalric, Adriano Luz
Género: Drama, Histórico
Classificação: M/12
Outros dados: POR/FRA, 2012, Cores, 135 min.



"Fugido do hospital onde convalescia de ferimentos em combate, surpreendido pela chegada do Exército francês a Coimbra, o tenente Pedro Alencar percorre ruas, descalço e em fraldas de camisa, até que uma porta de palácio aberta lhe concede abrigo. Entrando pelo escuro adentro, vai dar a uma sala que, subitamente, se alumia — e são fantasmas aristocráticos numa festa luzida, mas um pouco assustadora, visão mágica de qualquer coisa a que as tropas lá fora tinham vindo pôr termo. De repente, a matriz realista de “Linhas de Wellington” ganha encantamento, torna-se algo fantástica, o filme eleva-se, como se eleva quando o suposto herói bélico, o futuro duque de Wellington que John Malkovich faz com imenso panache, só se preocupa com a imagem que vai deixar de si ou nos fornece a receita do célebre bife com o seu nome — supina ironia. São o Exército gaulês comandado por Massena — o filho querido da vitória — percebesse a impossibilidade de tomar Lisboa, o seu principal objetivo. Era o princípio do ocaso da estrela napoleónica."


"“Linhas de Wellington” é um filme que decorre no período de cerca de três semanas que medeia entre a batalha do Buçaco e o momento em que Massena inspeciona pessoalmente as Linhas de Torres e verifica a sua inexpugnabilidade com os meios de que dispunha. A iniciativa de o fazer coube ao produtor Paulo Branco, que comanditou o argumento a Carlos Saboga, passou por dois realizadores indigitados (Luís Filipe Rocha e Raúl Ruiz) — que não chegaram à fase de rodagem — e acabou materializada por Valeria Sarmiento, viúva de Ruiz, montadora fiel dos filmes do marido e ela mesma realizadora por direito próprio. Tem uma construção coral, uma multiplicidade de personagens cujas histórias se vão desenvolvendo e engrenando no turbilhão de uma retirada como nunca ocorrera, gentes do povo, marginais, soldados e vivandeiras, gente que se perdeu dos seus e bandos à solta que combatem por conta própria."

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"Há quem esteja ancorado no real histórico e há liberdades poéticas (como a amável caricatura da deliciosa cena das vedetas — Michel Piccoli, Isabelle Huppert, Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve, a quem Saboga faz o clin d’oeil de chamar Severina, como no “Belle de Jour”). Há quem ame, quem se enforque, quem se venda, quem enlouqueça e quem mude de vida — tudo contado numa narrativa de evidente competência, a todos os níveis. É uma magnífica produção, muito difícil porque quase sempre em exteriores, artilhada por uma impecabilíssima direção de arte assinada por Isabel Branco e sustentada no trabalho dos intérpretes, vasta galeria onde faço questão de destacar Nuno Lopes, que volta a mostrar ser um dos maiores atores portugueses deste tempo." Jorge Leitão Ramos, 06/10/2012