11.11.12

Argo
Título original: Argo
De: Ben Affleck
Com: Ben Affleck, Bryan Cranston, John Goodman
Género: Drama, Thriller
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2012, Cores, 120 min.


"Antes de tudo, diga-se que a história que este filme narra é incrível — e mais ainda se considerarmos que aconteceu mesmo. Durante a invasão da embaixada dos Estados Unidos em Teerão, em 1979 (que conduziu à longa detenção em cativeiro de 52 funcionários diplomáticos durante 14 meses, num braço de ferro com a Administração americana para que esta extraditasse o deposto Xá de volta ao Irão), seis conseguiram fugir, abrigando-se na residência do embaixador do Canadá sem que as autoridades locais se apercebessem. A história de como esses seis foram resgatados para fora do país — uma ação conjunta entre a CIA e o Canadá que permaneceu secreta durante muitos anos — é extraordinária. A CIA monta um esquema em que uma suposta equipa de produção cinematográfica busca lugares no Irão para servir de cenário natural às filmagens. Lá, como em qualquer outro lugar, a gente do cinema e a hipótese de filmes embaciam o olhar dos interlocutores, sejam governantes, sejam guardas revolucionários. Apenas um agente, Tony Mendez, entra no país, mas, com passaportes falsificados, ele e mais seis saem. O título desse filme fantasma — ficção científica com exóticas localizações —, que, evidentemente, nunca se fez, seria “Argo”."


"A história é tão inacreditável que... só podia vir da realidade, e, mesmo que tenha sido retocada para melhor servir as necessidades da ficção, o que Ben Affleck faz é narrá-la do modo mais efetivo que é capaz. Diga-se que o executa com irrepreensível competência. A sequência inicial — primeiro com a rápida informação da situação política no Irão e dos antecedentes que a explicam e depois com a tomada da embaixada pela multidão enfurecida — é bastante para o provar. Aliás, bem poderia ser mostrada como exemplo a cineastas que, por cá, têm abarcado temas históricos a que, precisamente, têm faltado quer explicações quer âncoras de verosimilhança que prendam a nossa vontade de acreditar. Em particular, o assalto à embaixada — filmado com a nervosidade da câmara na mão e da montagem rápida e sem protagonistas invidualizados —, dando a cólera da turba lá fora e o pânico dos funcionários no seu interior, é milimetricamente justo do ponto de vista dramatúrgico e da plausibilidade. Affleck não faz muito mais do que isso ao longo do filme? Não tem trouvailles de realização que o ponham no mapa das coisas que nos obrigam a olhar de novo, com outro tipo de atenção? Não tem, não, mas isso nem é grave, porque este ator tornado realizador pela terceira vez não quer ultrapassar a barreira da eficiência profissional, não mostra qualquer tenção de voar para outras paragens."

"Há uns anos, havia quem discutisse se, nos jornais, o cinema devia estar aparcado na área da cultura ou apenas no leve território do entertainment. Discussão sem fim nem objetivo, porque basta argumentar com Bergman ou Buñuel para se dizer que a cultura é o seu lugar, a polémica instala-se decerto quando falamos de “Rio Bravo” e já ninguém se entende quando se traz “Pulp Fiction” para o meio da controvérsia. “Argo” não introduz nenhuma polémica: é entertainment carpinteirado e afeiçoado pelo mais primoroso departamento da indústria cinematográfica americana, conta uma boa história com galhardia e não nos faz lamentar o preço do bilhete. Nestes dias em que a crise não é só financeira — há tanto cinema execrando por aí! — já não é nada mau que demos como bem aproveitadas as duas horas que o filme dura." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 10/11/2012