30.12.12



Entre Irmãs
Título original: Your Sister's Sister
De: Lynn Shelton
Com: Emily Blunt, Mark Duplass, Rosemarie DeWitt
Género: Comédia Dramática
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2011, Cores, 90 min.



"Jack/Mark Duplass está perdido de desgosto desde a morte do irmão, um ano atrás. Iris/Emily Blunt que é a sua melhor amiga e foi namorada do irmão oferece-lhe retiro na velha casa de férias familiar numa ilha em frente de Seattle. A ideia é que a solidão lhe dê tempo para pensar, arrumar ideias, retomar a vida que ficou aos baldões. Mas quando Jack chega à casa encontra-a ocupada por Hannah/Rosemarie DeWitt, irmã de Iris, que ali está, ignota, também a curar grave desarranjo sentimental, o fim de uma estável relação lésbica. Jack e Hannah não sabem o que fazer da vida que têm pela frente e, em particular, não estão nada interessados em companhia próxima, mas acabam a partilhar a casa, confidências e o mais que quem for ver o filme verá. No dia seguinte, Iris chega de surpresa à ilha, decidida, também ela, a deslindar coisas antigas e a provocar rumos novos."


"“Entre Irmãs” é uma história triangular nada óbvia, servida por um argumento vivo e, em particular, por diálogos balanceados de modo a fazer evoluir a ação sempre com inteligência, um fundo amargo amaciado pela suavidade de fios de humor, também eles dispostos com o condimento preciso para não se tornarem dominantes. O que há para mostrar são emaranhados sentimentos, todos a pedir a nossa cumplicidade, ao mesmo tempo que sabemos não ser possível conciliá-los por inteiro. No fundo, são coisas sérias que ali estão em cena, os salpicos de boa disposição não nos fazem esquecer o essencial."


"Ao contrário do que é usual em comédia (mas “Entre Irmãs” é uma comédia incomum, espero que já se tenha percebido...), os personagens existem, não são unidimensionais ou a cumprir funções, são pessoas complexas capazes de nos despertar reações díspares e que vão mudando ao longo do filme. É essa nossa deriva, o jogo de adesão e recuo que vamos fazendo em relação a cada um dos vértices do triângulo que torna gratificante a experiência de ver este filme. Vai-nos desarrumando estruturas e ideias feitas, o que é sempre bom apreciar. Para mais, a realizadora Lynn Shelton conseguiu uma direção de atores impecável, com destaque para a radiante interpretação de Rosemarie DeWitt, uma atriz que tínhamos descoberto em 2008 (“O Casamento de Rachel” de Jonathan Demme) e que quase não reencontrámos desde então. É um tom de aparência naturalista, tão direto que dir-se-ia arrancado à vida, não fosse o facto de a vida não produzir diálogos daqueles, tão bem calibrados que parecem partitura."

"Todos estes méritos, todavia, surgem empalidecidos pela (necessária? compulsiva?) rampa descendente para o happy end, tendência que, felizmente, só surge muito tarde no caminho do filme, lá onde a complexidade se desfibra em bons sentimentos para que o espectador saia da sala a concluir que tudo na vida se resolve e pode acabar bem. Só isso faz com que os aplausos que aqui se deixam, por escrito, não sejam tão entusiásticos quanto, durante a maior parte do tempo, “Entre Irmãs” parece justificar. Aplausos que também têm em consideração que este filme custou cerca de 100 mil euros, foi rodado em menos de duas semanas, ou seja, teve condições de produção drásticas, o que só mostra que, quando há uma vontade urgente de cinema, há milagres que acontecem." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 29/12/2012