FACTOS DIGNOS DE REALCE NO CONGRESSO DO PSD
No Congresso do PSD realizado em Barcelos, no passado fim-de-semana, Pedro Santana Lopes, mais uma vez, efectuou discursos superficiais, cheios de retórica mediática, mas sem substância.
Utilizou a linguagem politicamente correcta de que todos falam: crescimento com justiça social, apoio aos mais desfavorecidos, distribuição de riqueza, etc.. Que medidas práticas para levar a efeito tais intenções? Não apontou nenhumas. O populismo é, em grande parte, isto mesmo: dizer o que é simpático de ouvir, bem como uma grande ausência de ideias e forma de as concretizar.
Quanto a reformas iniciadas ou que estavam previstas pelo governo de Durão Barroso, na educação, na administração pública, na Justiça, na saúde, nada disse. Ou seja, o ímpeto reformista acabou com este PSD.
Falou da batalha da produtividade, fazendo lembrar a famigerada batalha da produção de Vasco Gonçalves, em 1975. Na altura, a acção do governo gonçalvista e do sector do MFA que lhe era afecto ia no sentido contrário ao sucesso de tal batalha. As nacionalizações, a alta salarial, a perseguição aos capitalistas, a reforma agrária, destruiram boa parte do tecido produtivo e colocaram o País à beira da bancarrota financeira. Apesar de Santana Lopes estar nos antípodas do "companheiro" Vasco, a sua política, contrariamente à de Durão Barroso e Manuela Ferreira Leite, é também oposta ao crecimento sustentável, pois privilegia o consumo, em detrimento do investimento. A baixa do IRS e a manutenção do IRC são significativas a esse respeito. Economistas reputados de vários quadrantes, especialmente do PSD e independentes de direita liberal, têm dito conduzir tal linha de rumo ao aumento da inflação e ao desequilíbrio financeiro, conduzindo, a prazo, ao "pântano" a que se referia Guterres quando abandonou o barco. Afinal, como diria Rui Gomes da Silva, há muitos "mentirosos", "sem vergonha", a afirmar ir o rei nú. Provavelmente, a cabala não se restringe à tríade Expresso/Público/Marcelo...
Também Luis Marques Mendes mostrou no Congresso a nudez do rei. A salva de palmas que recebeu não se deveu apenas a ter afirmado a necessidade de o PSD concorrer sozinho nos próximos actos eleitorais. Aliás, neste aspecto, os congressistas, representantes das bases, demonstaram não quererem as mesmas qualquer aliança pré-eleitoral com este PP.
Último facto digno de realce no conclave de Barcelos: a maioria dos anteriores dirigentes manteve-se nos seus lugares. Santana Lopes foi, nos últimos anos, colocando discretamente as suas pedras no xadrez aparelhístico. Aí reside meia explicação para estas pequenas alterações a nível directivo. A outra meia explicação reside no oportunismo dos "sempre-em-pé", os quais estão sempre, sempre, ao lado do vencedor. Alguns deles afirmariam que Santana Lopes, por eles, nunca chegaria a líder ou a primeiro-ministro.
Por Manuel Silva