18.11.04

JERÓNIMO DE SOUSA, O KAÚLZA DE ARRIAGA DO PCP



O Comité Central do PCP escolheu o nome a propôr para o cargo de secretário-geral no próximo congresso: Jerónimo de Sousa.

Recentemente, o director do "Expresso", José António Saraiva, afirmava ser o nosso conterrâneo Carlos Carvalhas o Marcelo Caetano do PCP. Marcelo não quis ser ditador como Salazar, pelo que teve contra si os ultras, onde pontificava o general Kaúlza de Arriaga, o qual, aliás, tentou derrubar o então primeiro-ministro, alguns meses antes do 25 de Abril. Por outro lado, também não foi democrata, passando a ter contra si os liberais que numa fase inicial colaboraram criticamente, embora sempre em defesa de uma democracia de tipo ocidental.

Carvalhas não é ortodoxo como Cunhal, mas também não foi tão longe quanto pretendiam os renovadores, pelo que não teve o apoio de uns nem de outros, acabando por abandonar a liderança comunista.

Irá suceder-lhe o "Kaúlza dos comunistas", Jerónimo de Sousa, reconhecidamente ortodoxo. Por paradoxal que pareça, a sua eleição é a garantia de que o PC continuará a ter uma força razoável, pois as bases e o eleitorado comunistas actuais, consituidos em grande parte por pessoas acima dos 50 anos, especialmente operários e reformados das zonas industriais de Lisboa e Setúbal, querem um partido de linha dura.

Se fosse escolhido um renovador, aqueles militantes e eleitores virariam costas ao seu partido de sempre, o qual ficaria reduzido a uns 2/3% de votos, porque, por outro lado, quem deixou de apoiar o PC e passou a apoiar (e votar) no PS ou no BE, não regressaria.

Quem ganharia com esta situação? A restante esquerda, especialmente o PS. Um centro e uma direita inteligentes, só por azelhice poderão desejar um PC "renovado". O velho PC da linha dura, após o fim da guerra fria, não constitui qualquer perigo e mantendo-se nos 7 ou 8% condiciona o PS pela esquerda.

PS: Nos partidos comunistas que restam em Portugal, parece haver uma tendência para a escolha de operários para o cargo de secretário-geral.

Há 4 anos, o PCTP/MRPP elegeu seu secretário-geral o operário electricista Luis Franco. Agora, o PCP irá eleger para idêntico lugar o metalúrgico Jerónimo de Sousa.

No MR, o secretário-geral é uma figura decorativa. O líder, de facto, é Doutor, advogado e professor universitário. Chama-se António Garcia Pereira. Porque Luis Franco sempre foi um Homem simples, limitado política e intelectualmente, mas muito honesto - e que foi um grande amigo meu - causa-me pena vê-lo fazer de "pau de cabeleira" dos doutores do seu e (ex-meu) partido.

Jerónimo será mesmo líder.

Por Manuel Silva