Por Manuel Silva
Há 30 anos (28 de Maio de 1975), a polícia política comandada por Otelo Saraiva de Carvalho, o COPCON (Comando Operacional do Continente), prendia, às ordens do MFA, 432 militantes do MRPP, entre os quais o secretário-geral, Arnaldo Matos, e outros membros do Comité Central, na sequência de assaltos perpetrados a várias sedes nas regiões de Lisboa e Coimbra. O objectivo do MFA, especialmente do sector gonçalvista, era aniquilar aquele partido.
Tal objectivo saiu gorado, pois no dia seguinte todas as sedes estavam reocupadas. As sucessivas manifestações do MRPP e demais formas de luta dentro e fora das cadeias, bem como os protestos pela arbitrariedade de tais prisões por personalidades democráticas, com destaque para Sá Carneiro e Mário Soares, obrigaram o COPCON a libertar todos os presos menos de 2 meses depois.
Na altura, eu tinha 15 anos. Havia aderido ao partido pouco antes. Não tive medo da repressão, a qual só aumentou a minha vontade de lutar pela causa em que acreditava. Um dos meus "controleiros" era José Lamego, actual dirigente do PS e ex-secretário de estado dos Negócios Estrangeiros, então estudante de Direito e professor na Escola Emídio Navarro, em Viseu.
Pouco tempo após as prisões, duas professoras minhas, na Escola Secundária de S. Pedro do Sul - a Ana Maria Sampaio (que me recomendou aquando da adesão) e a Natércia Soares - faltaram um dia às aulas. Pensámos que tivessem sido detidas. Felizmente, tal não aonteceu, pois no dia imediato compareceram na escola.
Foram tempos duros de luta, com reuniões clandestinas. Naquele tempo, independentemente do sector em que se militasse, a política fazia-se com paixão e lutava-se por ideias, não por tachos.
A esmagadora maioria dos militantes e simpatizantes do MRPP eram jovens, uns estudantes e outros trabalhadores. Havia uma forte componente operária no partido. Entre os aderentes havia uma grande repulsa do regime salazarista, do PCP e da URSS.
Passados 30 anos, o marxismo mostrou a sua falência em todo o lado. O que parecia ser a última esperança da esquerda revolucionária (o maoismo, a revolução cultural, a Albânia) provou conduzir a tiranias iguais à URSS e demais países de leste a que chamávamos de sociais-fascistas. O povo português demonstrou sucessivamente que não é tão conservador como parece, mas também não deseja qualquer revolução. Daí as alternativas actuais serem o PSD e o PS. Daí o quase desaparecimento do MRPP, pois a esmagadora maioria dos seus membros abriu os olhos para todas aquelas realidades.
Apesar de o PCTP/MRPP ter votações maiores que em 1976, por exemplo, tal deve-se à afirmação de protesto por algum eleitorado, pois dificilmente junta mais de cento e tal ou duzentas pessoas numa sala. Continua a ter uma linguagem coerente com o que sempre defendeu, mas completamente alheia à realidade. Não controla um único sindicato, comissão de trabalhadores, ou associação de estudantes. É uma mera curiosidade histórica.