14.10.05

No dia 6 de Agosto de 1945...

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preci­samente três meses após a derrota e a rendição da Alemanha nazi o governo dos Estados Unidos da América lançou uma bomba atómica sobre Hiroxima. Três dias depois, nova bomba era lançada sobre Nagasáqui. Foi a primeira vez (e, até ver, única) que alguém utilizou a bomba atómi­ca contra populações. Tratou-se de um crime hedi­ondo, do mais bárbaro, cruel e monstruoso morti­cínio da história universal. Mais de 200 mil pessoas tiveram morte imediata. Mais de 150 mil feridos ficaram condenados à morte.

Não obstante não haver nada que possa justifi­car tamanha barbaridade, os responsáveis pelo holocausto, desde então até hoje, repetem até à exaustão aquilo a que chamam as «duas razões» que estiveram na origem da decisão: «exigências militares» e «necessidade de evitar milhares de mortes de americanos e aliados». E foi a partir des­tas «duas razões» que proclamaram que «os bom­bardeamentos foram militarmente inevitáveis, democraticamente indispensáveis e humanitariamente necessários» (sublinhe-se que esta frase, de tantas vezes usada por sucessivos presidentes dos EUA para justificar crimes massivos, quase pode­rá ser tomada como refrão do hino nacional daquele país). Ainda que as «duas razões» fossem verdadeiras, nem assim o bárbaro morticínio seria justificável. Acontece, no entanto, que ambas as «razões» são falsas.

Comecemos pelas «exigências militares». São elucidativas as declarações sobre a matéria proferidas pelo almirante norte-americano W. Leahry: «Os japoneses estavam derrotados e prestes a capitular. O uso desta arma bárbara (...) não trouxe nenhuma contribuição material ao nos­so combate contra o Japão. Os EUA, como primei­ro país a utilizar esta bomba, adoptaram normas éticas semelhantes às dos bárbaros da Alta Idade Média» (anote-se que «fazer regressar o Japão à Idade da Pedra», era o objectivo expresso pelo Chefe da Força Aérea dos EUA, general Curtis Le May). Acresce que é hoje um dado incontroverso que Harry Truman sabia que o imperador do Japão tinha decidido render-se desde 20 de Junho de 1945 e que, através do embaixador japonês em Moscovo, havia encetado contactos com a URSS visando pôr fim à guerra. E a falsidade das «exigências militares» invocadas pelo presidente dos EUA é ainda mais evidente se a tudo isto se acrescentar o facto altamente relevante de a Alemanha nazi ter capitulado em Maio e o Japão ter perdido quase toda a aviação e marinha e de os sete mil raids dos B29 norte-americanos terem destroçado a defesa anti-aérea japonesa - e não só: o bom­bardeamento de Tóquio, em 10 em Março, havia provocado mais de 120 mil mortos e feridos...

Tudo isto torna óbvia a falsidade da segunda razão invocada pelos assassinos - «necessi­dade de evitar milhares de mortes de ame­ricanos e aliados». Em todo o caso, os responsá­veis pelo crime sentiram necessidade de quantificar as «vidas poupadas» pelas duas bom­bas atómicas. A dança dos números a que proce­deram é, por si só, elucidativa: Truman começou por informar que o lançamento das bombas «pou­para a vida a 250 mil americanos»; logo a seguir, corrigiu: afinal, tinham sido «poupadas 500 mil vidas (americanas e aliadas) das quais 300 mil americanas»; pouco depois, o número subiu para «meio milhão de vidas americanas poupadas» e viria a quedar-se na conta arredondada de «um milhão de vidas salvas». Churchil, altamente expe­riente na matéria, deu-lhe uma preciosa ajuda: ele­vou o número de «vidas poupadas» para «um milhão e duzentas mil». E o marechal britânico Arthur Harris estabeleceu o número oficial: «o lan­çamento das bombas sobre Hiroshima e Nagasá­qui poupou três a seis milhões de vidas»...

Naturalmente, esta ânsia de justificar o acto monstruoso nada tinha a ver com problemas de consciência. «O acontecimento mais importante da História» - assim classificava Truman o bombarde­amento das duas cidades japonesas - fora fria­mente perpetrado e visava objectivos que de há muito povoavam as mentes de Truman e Churchil e nada tinham a ver com a defesa de vidas huma­nas. Bem pelo contrário.

Truman, ainda senador, e numa altura em que Roosevelt considerava a hipótese de ajudar os soviéticos - que, então, suporta­vam todo o peso do exército nazi - objectara assim: «Se virmos que a Alemanha está em vias de ganhar a guerra, daremos uma ajuda à Rússia; se virmos que a Rússia vai ganhar, então teremos que ajudar a Alemanha. O importante é que russos e alemães se matem o mais possível uns aos outros». E é nesta perspectiva que se enquadra a utilização da bomba atómica contra populações civis. O Exército Vermelho, cuja intervenção fora determi­nante para a derrota dos nazis, fora o primeiro a entrar em Berlim e era necessário lançar um aviso à União Soviética. «A posse e o uso da bomba tor­nará a Rússia mais controlável» - argumentava o marechal Arthur Harris que, em Fevereiro desse ano, cumprindo uma ordem de Churchil, bombar­deara e destruíra Dresde (cidade alemã sem quais­quer alvos militares e desprovida de quaisquer defesas) provocando 120 mil vítimas. Além disso, segundo Churchil (citado pelo general Alan Brooke) «nós tínhamos agora nas mãos qualquer coisa que restabeleceria o equilíbrio com os russos (...) Churchil imaginava-se já em vias de liquidar os centros industriais soviéticos e todas as zonas com forte concentração populacional. Ele via-se como único detentor dessas bombas, capaz de as lançar onde quisesse, tornado todo poderoso e em condições de ditar as suas vontades a Staline».

Entretanto, em Hiroxima e Nagasáqui o horror continuava: os feridos morriam, as bombas atómicas continuavam a matar.

Autor desconhecido