20.5.07
No Reino Unido há milhares de crianças desaparecidas. Em Portugal, só no ano passado, foram 31. Ninguém deu por elas. O que leva então a esta excitação mediática com Madeleine? Em Inglaterra, talvez por ter acontecido a sul do Canal da Mancha onde, como se sabe, reina a barbárie. Em Portugal, talvez por pôr em perigo a economia algarvia. Para as televisões, talvez porque corresponda ao guião das “férias de sonho” que acabam em tragédia. E porque envolvendo uma família de classe média alta tenha sido mais fácil mobilizar os jornalistas. Isto explica como começou esta loucura. Como continuou, é mais simples. Começada a novela, ela só acaba quando as audiências se cansarem. Os espectadores precisam de se comover. Insensíveis ao sofrimento do vizinho do lado, querem ver o choro, as súplicas, as caminhadas na praia. Precisam de rezar pela pequena Madeleine, como precisaram de chorar por Diana, a princesa da televisão. A realidade faz a vez da ficção.