27.12.07

Kirikou
Título original: Kirikou et les Bêtes Sauvages
De: Bénédicte Galup
Com: Robert Liensol (Voz), Pierre-Ndoffé Sarr (Voz), Michel Ocelot
Género: Ani
Classificação: M/6
FRA, 2005, Cores, 75 min.

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"Não é preciso percorrer a lista dos títulos comercialmente estreados em Portugal no ano que agora finda para perceber que a oferta no domínio do cinema de animação está longe de primar pela diversidade. De facto, exceptuando uma longa de co-produção europeia (Renascimento) e duas curtas de produção nacional (História Trágica com Final Feliz e Porca Miséria), aquilo que em 2007 até nós chegou em matéria de cinema de animação foi (quase sempre) mais do mesmo, isto é: uma série de filmes em 3D «made in USA» que — comungando de um universo estético uniformizado, de estruturas narrativas invariáveis e de um sentido de humor padronizado — começam a tornar-se indiscerníveis entre si."

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"Neste sentido, saúda-se a estreia em Portugal de Kirikou, uma longa de animação francesa de Bénédicte Galup e Michel Ocelot que procura na tradição do 2D a especificidade do seu universo estético e que encontra na mitologia africana o seu ponto de referência narrativo. Mas, que fique claro: apesar do fascínio que possam provocar o carácter artesanal do seu grafismo e a voluntária ingenuidade da sua história, este filme constitui apenas um modesto exemplo do bom cinema de animação que ainda se vai fazendo fora de Hollywood."

"Continuação de Kirikou e a Feiticeira (obra que fez o nome de Ocelot e que, se a memória não nos falha, só foi lançado entre nós em VHS), Kirikou não é muito mais do que isto: uma sucessão de quatro breves contos com a África subsariana em fundo, que se destinam a um público infanto-juvenil (o que torna incompreensível a inexistência de uma versão dobrada) e que se deixam protagonizar pelo pequeno herói que dá nome ao filme. Assim sendo, o principal problema de Kirikou radica menos na inevitável linearidade da animação em 2D (que compensa a escassez de sugestões de profundidade com a notável paleta de cores que aplica sobre os «décors») do que no desenvolvimento esquemático da narrativa (que obedece sempre às exigências de um modelo predefinido): há sempre, primeiro, uma introdução narrada pelo avô de Kirikou; há sempre, depois, uma intriga suscitada por um perigo iminente e há, por fim, uma conclusão que confina com uma celebração ritual."



"Digamos, pois, que este simpático Kirikou é um pouco como os velhos 33 rotações: uma espécie obsoleta e à beira da extinção que ainda é capaz de nos devolver (em virtude de um salto da agulha no «pickup» ou de uma imperfeição no desenho) a um mundo que sabia conviver com a sua própria impureza. Em nome da infância (e da nostalgia que dela temos) não lhe diremos que não."
Vasco Baptista Marques, Expresso de 22/12/2007