Título original: Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull
De: Steven Spielberg
Com: Harrison Ford, Karen Allen, Cate Blanchett
Género: Acç, Ave
Classificação: M/12
EUA, 2008, Cores, 124 min.
"ENTRE 1981 E 1989, Indiana Jones lutou contra os nazis e contra os sanguinários thughs, teve nas mãos a Arca da Aliança e o Santo Graal, e Steven Spielberg conquistou, definitivamente, o coração dos empedernidos cinéfilos que ainda se lembravam dos 31 partes, dos «serials» dos anos 30, das aventuras em lugares exóticos, plenos de armadilhas e onde o herói havia de salvar a rapariga nem que fosse no último momento. Entre 1981 e 1989, a trilogia idealizada por George Lucas e posta em cena por Steven Spielberg foi um sucesso estrondoso e relançou os filmes de aventuras com ímpeto idêntico ao que A Guerra das Estrelas causara no reino da ficção científica."
"Revisitar Indiana Jones não é forçosamente uma boa ideia. Os tempos mudaram muito e os tipos que ainda sabem o que eram os 31 partes estão hoje de quinquagenários para cima. Além disso, como pôr a miudagem a identificar-se com um herói que já tem idade para ser avô desses jovens espectadores? Osso duro de roer..."
"O certo, todavia, é que Spielberg pôs mãos à obra, voltou a colocar o chapéu e o chicote em Harrison Ford, foi buscar Karen Allen à memória do primeiro filme e dotou-a de um filho quase adulto para dar descendência a Indiana, escolheu Cate Blanchett para vilã de serviço, no que fez muito bem, porque tudo o que ela faz é perfeito. E pô-los a todos em movimento em busca do El Dorado, com extraterrestres de permeio e muitas piscadelas de olho cinéfilas (do vislumbre da Arca Perdida à aparição de Shia LaBeouf a mimetear Brando), um argumento mais em correria que em elegância, onde não faltam índios aguerridos, rios turbulentos, mistérios e enigmas, areias movediças, formigas assassinas, uma cidade pré-colombiana escondida por detrás de uma cascata amazónica, feros soviéticos à caça do mesmo que Indiana (já que o filme se passa no auge da Guerra Fria) - tudo posto em cena de um modo bem-humorado e, evidentemente, competente, ou não fosse grande a indústria americana do entretenimento e Spielberg e George Lucas dois dos seus mais proeminentes gurus. Mas há que perguntar se o cinema ganha alguma coisa com isso, para lá do fugaz prazer epidérmico que sentimos. Sintoma dessa superficialidade é o filme recusar o que poderia ser um trunfo - o envelhecimento do herói, as contingências que o passar do tempo gera. Mas não lhe interessa reflectir sobre os mitos, afinal de contas Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal quer-se um dos maiores «blockbusters» de 2008, e as máquinas de fazer dinheiro não se constroem com apelos à reflexão do espectador."
"A dúvida é saber se o velho Indiana ainda se aguenta, face aos ventos que agora sopram dos confins mágicos de Harry Potter ou dos piratas das Caraíbas. Pelo menos, genica não lhe falta."
Jorge Leitão Ramos, Expresso de 24/05/2008
Jorge Leitão Ramos, Expresso de 24/05/2008