A uma semana da eleição para a presidência do PSD, talvez seja apropriado fazer um retrato político dos três candidatos principais: Ferreira Leite, Passos Coelho, Santana Lopes. Quando toda a gente fala da misteriosa identidade do PSD (social-democrata? liberal? populista?) e os próprios candidatos seriamente a discutem na televisão como se estivessem num seminário académico, é preciso dizer que Manuela Ferreira Leite representa o que há de mais genuíno e profundo no partido: a tradição autoritária que vem de Salazar e Marcelo e que Sá Carneiro e depois Cavaco manifestamente receberam. Manuela recusa a retórica democrática; insiste na discrição e na reserva; afirma mais do que discute; e, como dizia o outro, sabe muito bem o que quer e para onde vai. Os portugueses gostam disto. O PSD também.
Pedro Santana Lopes jura que mudou, mas não mudou. Continua a oscilar entre o papel de vítima (da televisão e da imprensa, do inimigo interno, da perfídia do mundo) e o papel de "menino guerreiro", sempre pronto a combater por ele e pelo partido, por mais desesperada que à primeira vista pareça a situação. Não se cansa de proclamar que é o homem que não podia ganhar a Câmara da Figueira e a ganhou; ou que não podia ganhar a Câmara de Lisboa e a ganhou. Infelizmente, quase nunca se lembra da patética aventura do seu Governo e da humilhante derrota de 2005. Ao repertório habitual acrescentou agora um ajuste de contas com o "grupo antipartido", que acha responsável pelas suas desgraças e, por extensão, da colectiva desgraça do PSD. No princípio da campanha, declarou que não era hoje tão "imprevisível". Não lhe ocorreu com certeza que o mal dele é ser excessivamente previsível.
Pedro Passos Coelho, que saiu do nada, explica dia a dia, com grande convicção e ênfase, que um verdadeiro chefe, um chefe nato, não nasce da experiência. E cita Aznar e Zapatero. O que sugere irresistivelmente a frase de um velho deputado a um aspirante a ditador de França, que se comparava a Napoleão: "Meu general, com a sua idade, Napoleão já tinha morrido." Pedro Passos Coelho não é o Napoleão (nem o Aznar) do PSD e a sua candidatura anda entre uma espécie de Suíça partidária (um "país" neutro para fugir à guerra) e um campo de refugiados. Apoiar Passos Coelho é a maneira de evitar um compromisso perigoso com Ferreira Leite ou com Santana e é, além disso, uma boa maneira de "voltar ao activo" para alguns restos de "cavaquismo" e do regime de Marques Mendes, como para o populismow que seguiu Menezes e se arrependeu a tempo. Esta mistura não promete o futuro, qualquer futuro. Esta mistura ressuscita o passado.
Pedro Santana Lopes jura que mudou, mas não mudou. Continua a oscilar entre o papel de vítima (da televisão e da imprensa, do inimigo interno, da perfídia do mundo) e o papel de "menino guerreiro", sempre pronto a combater por ele e pelo partido, por mais desesperada que à primeira vista pareça a situação. Não se cansa de proclamar que é o homem que não podia ganhar a Câmara da Figueira e a ganhou; ou que não podia ganhar a Câmara de Lisboa e a ganhou. Infelizmente, quase nunca se lembra da patética aventura do seu Governo e da humilhante derrota de 2005. Ao repertório habitual acrescentou agora um ajuste de contas com o "grupo antipartido", que acha responsável pelas suas desgraças e, por extensão, da colectiva desgraça do PSD. No princípio da campanha, declarou que não era hoje tão "imprevisível". Não lhe ocorreu com certeza que o mal dele é ser excessivamente previsível.
Pedro Passos Coelho, que saiu do nada, explica dia a dia, com grande convicção e ênfase, que um verdadeiro chefe, um chefe nato, não nasce da experiência. E cita Aznar e Zapatero. O que sugere irresistivelmente a frase de um velho deputado a um aspirante a ditador de França, que se comparava a Napoleão: "Meu general, com a sua idade, Napoleão já tinha morrido." Pedro Passos Coelho não é o Napoleão (nem o Aznar) do PSD e a sua candidatura anda entre uma espécie de Suíça partidária (um "país" neutro para fugir à guerra) e um campo de refugiados. Apoiar Passos Coelho é a maneira de evitar um compromisso perigoso com Ferreira Leite ou com Santana e é, além disso, uma boa maneira de "voltar ao activo" para alguns restos de "cavaquismo" e do regime de Marques Mendes, como para o populismow que seguiu Menezes e se arrependeu a tempo. Esta mistura não promete o futuro, qualquer futuro. Esta mistura ressuscita o passado.