Inimigos Públicos
Título original: Public Enemies
De: Michael Mann
Argumento: Ronan Bennett, Michael Mann
Com: Johnny Depp, Billy Crudup, Marion Cotillard, Christian Bale
Género: Acção, Drama
Classificacao: M/16
EUA, 2009, Cores, 141 min.
Título original: Public Enemies
De: Michael Mann
Argumento: Ronan Bennett, Michael Mann
Com: Johnny Depp, Billy Crudup, Marion Cotillard, Christian Bale
Género: Acção, Drama
Classificacao: M/16
EUA, 2009, Cores, 141 min.
"NO CINEMA de Michael Mann, o romantismo ‘vem das profundezas’, é uma segunda leitura que perpassa os seus filmes desde “Heat”. É certo que tudo isso já existia em “Miami Vice”, glória da TV dos anos 80; que a versão para cinema do mesmo título, de 2006, não foi mais do que a glorificação, melancólica e negra, desse romantismo que se inscreve na imagem de forma indelével. Mann, cada vez há menos dúvidas, não faz mais do que mergulhar de cabeça num inferno escrito a dois. Na ‘guerra civil’ que estala entre o casal. Na grande paixão e no grande abandono, chamem-lhe a fatalidade do destino. O que é isto se não ser romântico?"
"Pouco importa que, à volta do romantismo, sintamos em Mann os géneros do classicismo: western (do asfalto) em “Heat”; thriller em “Collateral”; melodrama em “Miami Vice”; biopic em “Ali”; e, agora, todos reunidos em “Inimigos Públicos”, um thriller que também é um western e um biopic melodramático sobre um dos maiores gangsters da história, John Dillinger (Johnny Depp, sólido como uma rocha). Estamos em 1933, ‘ano 4’ da Depressão. Para Dillinger, esta é a melhor época para assaltar bancos. Quando o filme começa, o herói tem menos de um ano de vida pela frente. A sua cara metade, descobre-a ele na mesa de um bar e, mais tarde, em bengaleiro de casa fina: chama-se Billie Frechette (Marion Cotillard). Encontro siderante, a recordar os décors em que tantos heróis do film noir estampavam nas ‘bonecas’ que os levariam à desgraça. ‘Bonecas’, bares, bengaleiros? Tudo isto soa a sórdido, sabemos bem. Sabemos ainda que não são poucos os que reconhecem no universo de Mann um machismo odioso. Mas também aqui a questão é mais profunda porque o que está em jogo não é o machismo que se escreve a rajadas de metralhadora nos clichés do gang-movie; é, tão-só, um fragmento da mitologia americana, fixado num filme de época e num dos seus maiores fora-da-lei. É também, através disso, um fragmento da mitologia do cinema, forçosamente. Não é coisa pouca."
"Que se fale do amor, esse amor tão terno e tão frágil que nos filmes de Mann se escapa sempre entre os dedos, ou porque já não há tempo ou porque, simplesmente, alguém escolheu o caminho errado, mas que não se esqueça o cinema. Dillinger já está cercado, já espalhou o pânico na Chicago em que foi rei (a mesma Chicago natal de Mann), já é o nº 1 da lista de Melvin Purvis (Christian Bale, notável como tudo o resto), quando, às tantas, o vemos numa sala de cinema. Essa sala, que exibe noticiário lançado pelo recém-criado FBI (a polícia americana começava a aprender as mesmas tácticas de Goebbels), reflecte a imagem do herói: wanted! Antes, já o víramos a ser transportado para a prisão de Indiana (de onde se evadirá, escapando de novo à cadeira eléctrica), e a ser aplaudido à chegada pelo povo, em êxtase. Mas quem é este Dillinger mitificado por Mann e tão longe dos outsiders de Walsh e de Wellman? Não menos do que uma estrela de cinema que, no cinema, se vê ao espelho. A estrela de cinema de um tempo em que os bandidos ainda tinham as mesmas armas da polícia e a impunidade era uma questão, não de vergonha, mas de estilo."
"Se Mann usa agora o vídeo digital HD e prova ser um genial criador de imagens que deflagram no mesmo fluxo e para o mesmo cerco, se o gesto é o mais ousado e experimentalista que hoje se pode encontrar em Hollywood, é porque o estilo ultrapassou o informe para voltar a assumir-se, definitivamente, como um elemento decisivo." Francisco Ferreira, Expresso de 08/08/2009