Por Manuel Silva
Alguém disse que o século XX (político) começou em 7 de Novembro de 1917, com a eclosão da revolução soviética, e terminou em 1989, com o fim da generalidade dos regimes comunistas, sendo o ponto fulcral desse fim o derrube do muro de Berlim, há 20 anos (9 de Novembro de 1989).
A revolução bolchevique constituiu uma enorme esperança para milhões de operários, camponeses, demais camadas de trabalhadores por conta de outrem, estudantes e intelectuais revolucionários, os quais, à excepção de uma ou outra nação mais desenvolvida, viviam em países dominados por gritantes injustiças sociais e humanas. Muitas dessas pessoas não tiveram vida própria, perderam empregos, foram presas, torturadas e mortas por um ideal que julgavam justo e salvífico para a humanidade.
Com a vitória de Lenine e seus camaradas, parecia tornar-se realidade o mundo novo e igualitário profetizado por Marx e Engels. Parecia...
Logo nos primeiros anos da revolução, o Exército Vermelho, comandado por Trotsky, o ideólogo inspirador de Francisco Louçã, percorreu a Rússia massacrando muitos milhares de compatriotas que não aceitavam o novo regime. Em 1922, marinheiros ultra-esquerdistas e anarquistas revoltados foram pura e simplesmente massacrados por tropas comandadas por Trotsky.
Com Estaline, o totalitarismo consagrou-se no seu mais pleno esplendor. Dezenas de milhões de pessoas eram mortas às ordens do tirano.
Embora do ponto de vista social, a situação melhorasse para os soviéticos, ficou muito aquém do desejado. Recordamos que aquando da reforma agrária colectivista, milhões de camponeses morreram à fome, já para não falar dos milhões fuzilados. Dirigentes importantíssimos como o próprio Trotsky, Bukharine, a quem Lenine apelidou de "filho querido do partido", Zinoviev, Kamenev e tantos outros, nos anos 30 do século passado, foram mortos, acusados de se passarem para o lado do inimigo.
Em 1937, houve um congresso do PCUS. Passado um ano, 70% dos membros do Comité Central então eleitos, dos ministros e dos altos comandos militares haviam sido fuzilados. Será que alguém de bom senso acredita que toda aquela gente trabalhava para a CIA e demais inimigos da revolução?
Em todos os países com regimes comunistas se passou algo de idêntico.
A partir dos anos 60, muitos milhões de intelectuais e jovens, quer trabalhadores, quer estudantes, desiludidos com os caminhos seguidos por Moscovo, viraram-se para a China e Mao Tsé Tung. Era a última esperança do comunismo, com a revolução cultural, a campanha das cem flores a desabrochar e das cem escolas a rivalizar. Julgavam viver-se ali o socialismo puro a caminho da sociedade sem classes. Com a morte de Mao e de Enver Hodxa, na Albânia, não foi mais possível mentir. As revoluções chinesa e albanesa tinham falhado a nível económico e social, tal como na URSS e demais países da cortina de ferro.
Além da enorme repressão - no mundo inteiro o comunismo foi responsável por 100 milhões de mortos - em todos os chamados países socialistas se vivia a igualdade na pobreza ou mesmo na miséria, como se viu no terceiro mundo, enquanto os chefes se tornavam em novas burguesias, muitas vezes corruptas, como são os casos de Brejnev e familiares, Honneker, Enver Hodxa e sua mulher, Nixmije Hodxa, e tantos outros. É caso para perguntar se o mal esteve no leninismo, no estalinismo, no trotskismo, no maoismo e não no marxismo? Não será por acaso que todos os herdeiros de Marx que foram poder seguiram a via atrás descrita. A aplicação prática das teorias económico-sociais do marxismo falharam. Quanto à repressão, caro leitor, leia a última página do "Manifesto do Partido Comunista", escrito por Marx e Engels em 1848. Aí se diz "que há partidos porque há classes, logo, a classe operária vitoriosa, deverá esmagar os partidos burgueses". Ali se apela à violência e ao sangue. O que daria tudo isto levado à prática, senão ditaduras sanguinárias?
Também eu fui marxista-leninista-maoista. Estive no MRPP e no PCTP/MRPP durante uma década. Saí em 1985, com apenas 26 anos. Quando quatro anos depois vi cair o muro e em todo o leste as estátuas dos mestres do marxismo, que eu já tinha derrubado no meu interior, fiquei feliz. No entanto, interroguei-me como foi possível tantos de nós termos acreditado "naquilo". Também pensei, como já fazia desde que deixei de ser discípulo do Arnaldo, que o capitalismo de rosto humano, com todos os seus defeitos, era o melhor dos sistemas económicos e que, conjugado com a democracia, possibilitava a liberdade e o bem estar para a esmagadora maioria dos trabalhadores, mas se tal foi possível, também se deveu, por outro lado, às revoluções comunistas que obrigaram o capitalismo a democratizar-se e a respeitar os direitos de quem trabalha. Esta era a posição defendida, na altura, por um dos responsáveis pela queda do comunismo: o Papa João Paulo II.
Lembrei-me também dos meus ex-camaradas Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa, caídos na luta, o primeiro assassinado pela PIDE e o segundo pela UDP, hoje integrada no Bloco de Esquerda. Se fossem vivos ainda acreditariam no ideal pelo qual deram, de forma heróica, as suas vidas? Ou fariam o que eu e a maioria dos militantes e simpatizantes do MRPP fizemos? Resta a esperança e a fé de um dia nos encontrarmos e conversarmos sobre tudo isso.
A revolução bolchevique constituiu uma enorme esperança para milhões de operários, camponeses, demais camadas de trabalhadores por conta de outrem, estudantes e intelectuais revolucionários, os quais, à excepção de uma ou outra nação mais desenvolvida, viviam em países dominados por gritantes injustiças sociais e humanas. Muitas dessas pessoas não tiveram vida própria, perderam empregos, foram presas, torturadas e mortas por um ideal que julgavam justo e salvífico para a humanidade.
Com a vitória de Lenine e seus camaradas, parecia tornar-se realidade o mundo novo e igualitário profetizado por Marx e Engels. Parecia...
Logo nos primeiros anos da revolução, o Exército Vermelho, comandado por Trotsky, o ideólogo inspirador de Francisco Louçã, percorreu a Rússia massacrando muitos milhares de compatriotas que não aceitavam o novo regime. Em 1922, marinheiros ultra-esquerdistas e anarquistas revoltados foram pura e simplesmente massacrados por tropas comandadas por Trotsky.
Com Estaline, o totalitarismo consagrou-se no seu mais pleno esplendor. Dezenas de milhões de pessoas eram mortas às ordens do tirano.
Embora do ponto de vista social, a situação melhorasse para os soviéticos, ficou muito aquém do desejado. Recordamos que aquando da reforma agrária colectivista, milhões de camponeses morreram à fome, já para não falar dos milhões fuzilados. Dirigentes importantíssimos como o próprio Trotsky, Bukharine, a quem Lenine apelidou de "filho querido do partido", Zinoviev, Kamenev e tantos outros, nos anos 30 do século passado, foram mortos, acusados de se passarem para o lado do inimigo.
Em 1937, houve um congresso do PCUS. Passado um ano, 70% dos membros do Comité Central então eleitos, dos ministros e dos altos comandos militares haviam sido fuzilados. Será que alguém de bom senso acredita que toda aquela gente trabalhava para a CIA e demais inimigos da revolução?
Em todos os países com regimes comunistas se passou algo de idêntico.
A partir dos anos 60, muitos milhões de intelectuais e jovens, quer trabalhadores, quer estudantes, desiludidos com os caminhos seguidos por Moscovo, viraram-se para a China e Mao Tsé Tung. Era a última esperança do comunismo, com a revolução cultural, a campanha das cem flores a desabrochar e das cem escolas a rivalizar. Julgavam viver-se ali o socialismo puro a caminho da sociedade sem classes. Com a morte de Mao e de Enver Hodxa, na Albânia, não foi mais possível mentir. As revoluções chinesa e albanesa tinham falhado a nível económico e social, tal como na URSS e demais países da cortina de ferro.
Além da enorme repressão - no mundo inteiro o comunismo foi responsável por 100 milhões de mortos - em todos os chamados países socialistas se vivia a igualdade na pobreza ou mesmo na miséria, como se viu no terceiro mundo, enquanto os chefes se tornavam em novas burguesias, muitas vezes corruptas, como são os casos de Brejnev e familiares, Honneker, Enver Hodxa e sua mulher, Nixmije Hodxa, e tantos outros. É caso para perguntar se o mal esteve no leninismo, no estalinismo, no trotskismo, no maoismo e não no marxismo? Não será por acaso que todos os herdeiros de Marx que foram poder seguiram a via atrás descrita. A aplicação prática das teorias económico-sociais do marxismo falharam. Quanto à repressão, caro leitor, leia a última página do "Manifesto do Partido Comunista", escrito por Marx e Engels em 1848. Aí se diz "que há partidos porque há classes, logo, a classe operária vitoriosa, deverá esmagar os partidos burgueses". Ali se apela à violência e ao sangue. O que daria tudo isto levado à prática, senão ditaduras sanguinárias?
Também eu fui marxista-leninista-maoista. Estive no MRPP e no PCTP/MRPP durante uma década. Saí em 1985, com apenas 26 anos. Quando quatro anos depois vi cair o muro e em todo o leste as estátuas dos mestres do marxismo, que eu já tinha derrubado no meu interior, fiquei feliz. No entanto, interroguei-me como foi possível tantos de nós termos acreditado "naquilo". Também pensei, como já fazia desde que deixei de ser discípulo do Arnaldo, que o capitalismo de rosto humano, com todos os seus defeitos, era o melhor dos sistemas económicos e que, conjugado com a democracia, possibilitava a liberdade e o bem estar para a esmagadora maioria dos trabalhadores, mas se tal foi possível, também se deveu, por outro lado, às revoluções comunistas que obrigaram o capitalismo a democratizar-se e a respeitar os direitos de quem trabalha. Esta era a posição defendida, na altura, por um dos responsáveis pela queda do comunismo: o Papa João Paulo II.
Lembrei-me também dos meus ex-camaradas Ribeiro Santos e Alexandrino de Sousa, caídos na luta, o primeiro assassinado pela PIDE e o segundo pela UDP, hoje integrada no Bloco de Esquerda. Se fossem vivos ainda acreditariam no ideal pelo qual deram, de forma heróica, as suas vidas? Ou fariam o que eu e a maioria dos militantes e simpatizantes do MRPP fizemos? Resta a esperança e a fé de um dia nos encontrarmos e conversarmos sobre tudo isso.