Num país civilizado, qualquer um se sentiria incomodado se a mulher, amante, amiga, namorada, união de facto ou o que fosse usasse o seu poder sobre um Primeiro-Ministro para o levar a tomar decisões políticas ou outras numa ou noutra direcção. Seria grave se a namorada do Primeiro-Ministro lhe telefonasse a pedir favores para determinado licenciamento de um primo ou amigo inglês, ou a pedir para que determinado sucateiro lhe fosse recolher o lixo. Mas não será igualmente grave que a mesma pessoa envide todos os esforços para que o PM adopte determinadas opções legislativas face aos comportamentos pessoais? Que sentirá o pobre do Sócrates ao chegar a casa, diariamente, cansado, e a ter de ouvir "Ó Zézito, já trataste do casamento dos meus amigos homossexuais?"
Se a cara-metade de um PM fosse publicamente uma acérrima defensora de uma determinada empresa, seria estranho que o PM, ainda mal arrumados os cartazes da campanha, fosse a correr atribuir a essa empresa qualquer vantagem (principalmente num momento em que o país precisa de coisas bem mais importantes).
Vamos que a mulher do PR começava a escrever em blogues e jornais (apoiantes ou não do PR, vamos por ora deixar isso de lado) e a aparecer em todo o lado a vociferar (o termo não é completamente aplicável à senhora mas estamos no campo do comparativo e hipotético) contra o casamento de homossexuais do mesmo sexo, apoiando e sendo apoiada por muitos e muitas organizações de pensamento semelhante. E a seguir vinha o PR e vetava o diploma meticulosamente preparado e negociado entre o PS e o BE. Como é que ficava a coisa? [aqui]