Por Manuel Silva
Paulo Rangel afirmou em entrevista a Judite de Sousa que não está interessado em liderar o PSD e que o futuro presidente daquele partido deverá ser Marcelo Rebelo de Sousa.
Marcelo, por sua vez, em entrevista aos "Gato Fedorento", sempre que se referia ao PSD falava na "direita" e no "centro-direita". Essa não é a matriz do PSD, um partido central, que alberga todo um eleitorado que vai do centro-direita à esquerda mais moderada, não socialista, que hoje se apelida de esquerda liberal. Esse era o projecto de Sá Carneiro, uma terceira via "avant la lettre", a qual se poderia considerar de direita na parte económica e de esquerda no aspecto social. Pode mesmo afirmar-se que o primeiro líder do PSD foi o percursor de Blair ou Giddens.
Marcelo sempre defendeu uma aliança com Portas e o PP. Viu-se como acabou a mesma há muitos anos. Alianças à direita alienam o eleitorado central ao PS, o que se via, aliás, nas sondagens publicadas quando Marcelo e Portas criaram a AD e Guterres liderava o governo.
Eleger Marcelo para a liderança do PSD seria andar para trás e, como se constata, com o apoio dos que juntamente com a tecnocrata sem formação política e ideológica, Manuela Ferreira Leite, conduziram os sociais-democratas ao abismo eleitoral do passado dia 27 de Setembro.
Para derrotar, no fututo, o PS, o PSD deve diferenciar-se deste partido pela contestação a uma economia estatizante e beneficiadora dos amigos, empresários ou não, e bater-se por uma economia liberal, pela emancipação e independência da sociedade civil. Deverá ainda defender a reforma do Estado Social, cujo status quo é querido por Manuela Ferreira Leite e Marcelo. Embora o Estado não se deva demitir das suas funções sociais, deverá actuar no tocante às mesmas em conjunto com o voluntariado social e as instituições particulares de solidariedade social.
No plano dos costumes, o PSD deverá recusar o relativismo moral que corrói as nossas sociedades, mas também o conservadorismo e o reaccionarismo sociais.
Também o afastamento do cavaquismo, hoje desactualizado, porque muito economicista e tecnocrático, é importante para a social democracia portuguesa.
Seguindo aqueles princípios, os sociais democratas captarão o apoio transversal de todos os sectores sociais, desde os mais desfavorecidos aos agentes económicos (para fazer crescer a economia, combater a pobreza e o atraso social e cultural não basta, embora seja importante, apoiar as pequenas e médias empresas. São necessários grandes grupos económicos e investimento estrangeiro, para o que há que diminuir os impostos e as despesas públicas, gastando menos e melhor, o que passa, no essencial, como acima dizemos, pela reforma do Estado Social).
Só um liberal progressivo, que não é de direita, mas está mais próximo da terceira via corporizada por Blair, Obama ou Clinton, como Pedro Passos Coelho, poderá, no futuro, levar o PSD à vitória. Marcelo é a continuação do que aí está e tem levado a sucessivas derrotas, mesmo com o eleitorado desiludido face a Sócrates, como se viu com a perda da maioria absoluta do mesmo nas últimas legislativas.