3.11.09

A primeira pergunta que se deve fazer é simples: poderá Marcelo unir o PSD? O PSD, ao contrário do que supõem alguns fantasistas, não se pode unir encontrando agora por milagre qualquer espécie de unidade ideológica, programática ou estratégica. Para isso, precisava de um papel claro e definido na sociedade portuguesa e de um apoio estável. Na ausência de uma coisa e outra, só se unirá à volta de uma pessoa - de um "chefe" - capaz de ganhar ao PS, e em geral à esquerda, e de o reinstalar no governo. É Marcelo essa pessoa? Os "populistas", que se julgam donos das miríficas "bases" do partido, dizem que não. E já denunciaram a "vaga" pró-Marcelo como um "gesto" "patético" e desesperado das "pseudo-elites" do PSD, "eminentemente" responsáveis pela catástrofe de Setembro. Mas, fora os lunáticos do costume, também gente sensata desconfia com razão do novo Messias.

Quando foi presidente do PSD, Marcelo acabou mal. Hoje, ao fim de treze anos de exílio, amadureceu e tem um certa gravitas, que dantes lhe faltava. Em teoria, é um "chefe" perfeito. Conhece o regime e o partido como ninguém; professor de Direito Público e com uma cultura económica respeitável, não corre o perigo de cair nas mãos de "peritos" sem senso ou sensibilidade social; fala "bem"; e, como é notório, "passa" optimamente na televisão. Só que há um vácuo no centro da personagem: um vácuo de convicção. Com duas páginas de jornal e um programa de meia hora por semana na RTP, no fundo ninguém sabe o que Marcelo verdadeiramente pensa, nem o que ele quer para ele e para o país. O que não deixa de ser inquietante. [aqui]