Vencer
Título original: Vincere
De: Marco Bellocchio
Com: Filippo Timi, Giovanna Mezzogiorno, Michela Cescon, Fausto Russo Alesi
Género: Drama
Classificação: M/12
FRA/ITA, 2009, Cores e P/B, 121 min.
Título original: Vincere
De: Marco Bellocchio
Com: Filippo Timi, Giovanna Mezzogiorno, Michela Cescon, Fausto Russo Alesi
Género: Drama
Classificação: M/12
FRA/ITA, 2009, Cores e P/B, 121 min.
"IDA DALSER conheceu Benito Mussolini quando ele era um jovem que se rebelava contra os valores burgueses, pregava a revolução, desafiava, de peito feito, a própria cólera de Deus — e gritava querer, com as tripas do último Papa, enforcar o último rei. Apaixonou-se loucamente por ele e deu-lhe tudo, o corpo, a alma, os haveres, a fidelidade — um filho. Mas quando Mussolini se tornou herói de guerra, casado e conforme, depois ditador de uma Itália que aclamava o fascista como um deus, Ida não cabia, definitivamente não cabia, no programa político e na imagem pública do chefe. Só que ela não se conformou com a normalidade de mãe solteira e repudiada, não se calou, desatando a escrever cartas a todas as autoridades possíveis, até ao rei e ao Papa, reclamando ter casado com o Duce, ter sido mãe do seu primogénito másculo. O poder do Estado totalitário caiu sobre ela — e aniquilou-a. Separada do filho, internada em manicómios, morreria no de San Clemente, em Veneza, em 1937."
"É uma história que parece ter sido inventada para que Bellocchio lhe pegasse. Tem lá dentro todas as linhas de força da obra singular que o cineasta vem edificando há mais de 40 anos, da rebelião à loucura (e da loucura como sintoma e azorrague da rebelião), do sexo como energia não encastrável às ilusões caldeadas na utopia das mudanças políticas radicais. É a história de uma mulher transportada por um amor tão irrestrito que só a loucura o pode definir. E, mais do que ser vítima de uma conjura política, a tragédia de Ida, tal como Bellocchio a filma, é essa. É não ter percebido que o corpo do seu amado Benito lhe fora arrebatado pelo espaço público — e que só por insanidade ela podia confrontar-se com um ícone."
"A figuração de Mussolini é, aliás, uma das coisas mais assombrosas de “Vencer”. Primeiro, Bellocchio escolhe um actor (Filippo Timi) que parece nem semelhanças ter com o ditador tal como o conhecemos. É a fase em que ele é ainda um homem na esfera dos mortais. Depois, quando o poder de Estado o absorve, o actor desaparece e ficam as actualidades da época — Mussolini já ícone. No fim do filme, reaparece o actor para interpretar o filho adulto e alucinado. E quando Timi se põe a mimar o discurso de Mussolini descobrimos, estupefactos, as semelhanças, praticamente um mimetismo (e, de repente, a oratória febril do Duce é outra forma de demência)." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 29/05/2010