12.10.10

Lola + A History of Mutual Respect
Título original: Lola
De: Brillante Mendoza
Argumento: Linda Casimiro
Com: Anita Linda, Rustica Carpio, Tanya Gomez, Jhong Hilario, Ketchup Eusebio
Género: Drama
Classificação: M/12
Filipinas/FRA, 2009, Cores, 113 min.

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"Lola, em tagalog, a língua filipina, significa “avó” e há duas, ambas octogenárias, no novo filme de Brillante Mendoza, o mais melodramático dos que realizou, também o seu melhor. Foi rodado em Malabon e em Mandaluyong, duas das cidades da região metropolitana de Manila (colosso com 20 milhões de habitantes), durante a época das chuvas, debaixo de céu cinzento. Tão cinzento quanto a dor das duas avós do título, Lola Sepa e Lola Carpin, respetivamente interpretadas por Anita Linda e Rustica Carpio: elas são duas ladies da cinematografia filipina e foram, nos anos 70 e 80, atrizes de Lino Brocka, trave-mestra do cinema do país durante os anos da ditadura de Ferdinand Marcos. Mendoza, hoje com cinquenta anos, fez carreira na publicidade antes de iniciar, em 2005, com “O Massagista”, uma carreira estonteante. “Lola”, estreado em Veneza 2009, é a sua nona longa-metragem nos últimos cinco anos. Cineasta de culto, ele passou a circular nos festivais internacionais à mesma velocidade da sua produção e parte da sua cinematografia foi retrospetivada no início deste ano, graças a uma ação do IndieLisboa. Ou seja: não é propriamente um novato que aqui apresentamos, embora “Lola” seja o seu primeiro filme a estrear em Portugal, pela mão da distribuidora Alambique (ver texto ao lado). Antes disso, a Atalanta tinha editado “Serbis”, em DVD."

"Apresentações feitas, passamos ao filme. E à dor das avós, que é profundamente católica e inspirada por um fait divers. A primeira Lola que vemos, Lola Sepa, percorre freneticamente as ruas de Manila que só Mendoza sabe filmar daquela maneira, à procura de um caixão para o corpo do seu neto, esfaqueado até à morte na noite anterior. Mas falta-lhe dinheiro para cumprir as exéquias. A segunda Lola, Lola Carpin, não se encontra em estado de menor desespero: ela é a avó do presumível assassino e, acreditando na sua inocência, faz o que pode para salvá-lo da cadeia e da justiça. Também aqui há dinheiro envolvido. Ora, os caminhos das duas avós acabam a uma dada altura por encontrar-se. Nas Filipinas —e o filme é exímio a mostrá-lo — as ‘lolas’, chefes matriarcas, gozam de enorme respeito por parte da sociedade. O filme de Mendoza, que tem a câmara sempre à altura das suas personagens, com uma frontalidade e um pudor comoventes, vai apostar tudo neste dilema, que é antes de tudo uma questão de moral: poderão as duas avós, derradeiros símbolos de integridade de um corpo social que sentimos à beira do colapso, encontrar um modo para mitigar o seu sofrimento? E o que pode existir de sórdido num provável ‘pacto’ entre a avó do assassino e a avó do assassinado, se elas se adaptarem às circunstâncias?"



"“O público filipino não está preparado para os meus filmes”, disse Mendoza. “O que eles procuram no cinema é entretenimento, glamour, vestidos bonitos. Não querem a realidade, preferem o que está fora dela. Uma vida bonita que não têm. Enquanto cineasta, sinto que as minhas responsabilidades passam por aqui: mostrar que a realidade está aqui e que é esta a nossa vida.” Chegamos com isto ao método de Mendoza. Ele sabe dirigir intérpretes profissionais (as duas avós do filme são atrizes de craveira) como se estes fossem amadores. Sabe distribuir os efeitos da ficção no seu talento de documentarista e fá-lo, neste filme, com uma intensidade que nunca teve, mergulhando na realidade vertiginosa que o rodeia."



"Em complemento, é exibido “A History of Mutual Respect”, curta-metragem de Daniel Schmidt e Gabriel Abrantes que venceu o IndieLisboa e um Leopardo de Ouro em Locarno." Francisco Ferreira, Expresso de 25/09/2010