13.10.10

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme
Título original: Wall Street: Money Never Sleeps
De: Oliver Stone
Argumento: Stephen Schiff, Allan Loeb
Com: Michael Douglas, Shia LaBeouf, Carey Mulligan, Frank Langella, Josh Brolin
Género: Drama
Classificação: M/12
EUA, 2010, Cores, 131 min.

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"Oliver Stone está a ficar velho. Ou talvez seja eu a envelhecer. Mas gostei do novo ‘Wall Street’, provavelmente por ter na memória a mediocridade do antigo. No ‘Wall Street’ original, Stone cedia ao seu pecado capital: o maniqueísmo ignaro e caricatural do esquerdismo infantil americano, que o cineasta igualmente exibe nos filmes sobre o Vietname (‘Platoon’, ‘Nascido a 4 de Julho’ e ‘Quando o Céu e a Terra Mudaram de Lugar’), bem como na trilogia presidencial (‘JFK’, ‘Nixon’ e ‘W.’)."

"Nesse ‘Wall Street’ de 1987, o primitivismo de Stone estava concentrado na figura de ‘Bud Fox’ (Charlie Sheen) que, recusando a honradez telúrica e laboral do pai (primoroso Martin Sheen), procura subir depressa demais, e ilegalmente demais, na cadeia alimentar da riqueza americana. "Não há nada de nobre na pobreza", diz ele, com diabólica soberba. Para tanto, ‘Bud’ conta com a ajuda de ‘Gordon Gekko’ (Michael Douglas), um milionário histriónico para quem a ganância é o verdadeiro mecanismo de "selecção natural" entre a espécie humana: a ganância separa os ambiciosos dos perdedores, e esse caridoso serviço deve ser reconhecido e até apoiado."

"Na pena moralista de Oliver Stone, ‘Gekko’ e ‘Bud’ acabam mal e o dedo em riste do realizador parecia dizer-nos: "o capitalismo destrói almas; afastem-se dele!" Uma advertência grave que implicava uma pergunta necessariamente grave: mas se o capitalismo destrói almas, quais serão as alternativas? Durante uns tempos, Oliver Stone procurou-as. Chegou até a ir a Cuba, filmar um dos documentários mais sabujos de que há memória sobre Fidel Castro e respectiva sabedoria colectivista."

"Felizmente para Cuba (e para Stone), o comunismo já nem para os cubanos serve (palavras de Fidel) e o novo ‘Wall Street’ abandona os tiques do primeiro: ‘Gordon Gekko’ continua o mesmo ganancioso de sempre, disposto até a atraiçoar a confiança dos mais próximos para regressar ao topo da pirâmide. Mas a condenação moralista de Stone já não se dirige para o sistema capitalista como um todo; apenas para os tubarões que se aproveitam dele e, no limite, o destroem. Tubarões bem piores do que ‘Gordon Gekko’. Além disso, se no primeiro ‘Wall Street’ não há salvação para ‘Gekko’, neste segundo filme da série é-lhe concedida uma última oportunidade de redenção e até de sabedoria: acontece no final, quando ‘Gekko’ entende que a única riqueza que verdadeiramente possuímos é o tempo que nos resta. Quem diria? Quem diria que, para Oliver Stone, mesmo na alta finança de Wall Street é possível encontrar "o leite da ternura humana"?"



"‘Gordon Gekko’ sai da cadeia com uma dupla missão: refazer a fortuna e retomar a sua relação com a filha. Mas o mundo mudou: um mundo onde a ganância não apenas é boa como legal – e ilimitada." João Pereira Coutinho