Título original: Inside Job
De: Charles Ferguson
Argumento: Charles Ferguson, Chad Beck, Adam Bolt
Género: Documentário
Classificação: M/12
Estúdios: Sony Pictures Classics
EUA, 2010, Cores, 106 min.
"Sabe o leitor o que aconteceu até há poucos anos à Islândia, um pequeno país onde era doce viver, apesar do frio? Tinha um dos mais altos índices de qualidade de vida do mundo, uma economia próspera e controlada. Depois, este filme explica, nos primeiros dez minutos, o que aconteceu. Tudo começou com a gesta dos pequenos bancos públicos islandeses, que, privatizados por força de uma lenda moderna de que o Estado é sempre mau gestor, foram depois crescendo. E crescendo, crescendo, concedendo créditos a jovens empreendedores que, num ápice, passaram de homens ambiciosos a investidores multinacionais (na realidade, o que eles tinham era apenas dívidas) — ao mesmo tempo que os bancos se iam endividando no exterior. E comprando fundos internacionais, participando na euforia do crescimento exponencial, na economia global. O Governo apoiava, incentivava, exultava. A dívida externa tornou-se obscena. Depois, com a crise americana, os bancos colapsaram, levando o país consigo — à falência. O filme mostra homens de meia-idade, classe média-alta, dizendo, frente à câmara, que perderam tudo. Eu acho que os vi estremecer. Ou então fui eu."
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"A fita, todavia, não é inflamada, não ergue o cornetim num toque a reunir, chamando os cidadãos para uma qualquer tomada da Bastilha ou assalto ao Palácio de Inverno. Está, também, nos antípodas da postura de um Michael Moore, com o seu humor truculento e sem escrúpulos de maior. Charles Ferguson, o realizador de “Inside Job — A Verdade da Crise”, não é um provocador agressivo. O seu filme é documentado com minúcia (aqui e ali excessiva, mas a economia, já se sabe, é matéria árida). No confronto com alguns dos vultos eméritos da América, ele nunca é impulsivo, questiona com a frieza e a determinação de quem sabe o que diz. Mas não larga — eé interessantíssimo vê-los baquear ou então sustentarem o que fizeram com uma cara de pau que é tão carregada de hipocrisia que apetece ir buscar a pá do lixo." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 13/11/2010