25.7.11

A Conspiradora
Título original: The Conspirator
De: Robert Redford
Com: Robin Wright, James McAvoy, Tom Wilkinson
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: EUA, 2010, Cores, 122 min.

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""Ibelieve in America” — dizia, logo no início de “O Padrinho” e com o ecrã ainda em negro, o pobre pasteleiro emigrante que ia pedir a Don Corleone a justiça que a Justiça americana lhe negara. É uma das aberturas mais célebres do cinema, uma declaração de princípios amarga no confronto com a realidade. Toda a saga de Coppola é uma metáfora onde o capitalismo e o crime organizado são duas faces de uma mesma moeda, de tal maneira estão interligados, das ruas escusas de Nova Iorque do princípio do século XX às púrpuras cardinalícias do poder no Vaticano. Não é nada certo que Francis Ford Coppola possa fazer sua, sem ironia, a afirmação do seu personagem. Redford está nos antípodas. É um liberal que acredita profundamente nos valores americanos, mesmo quando mostra os desvios que a eles a realidade foi fazendo. O seu novo filme é uma apaixonante demonstração disso mesmo."

"Frederick Aiken, o protagonista de “A Conspiradora”, faz de toda a sua vida uma afirmação de crença na América e nos princípios matriciais que os pais fundadores deixaram gravados na Constituição. Abnegado herói da Guerra da Secessão, vê-se, mal regressado à vida civil, como advogado, empurrado para aceitar a defesa de alguém que, num dado momento, personifica todo o Mal de que a América está a padecer: Mary Surratt, a dona da pensão onde decorreu toda a bem sucedida conspiração para assassinar o Presidente Abraham Lincoln. Como o assassino confesso, John Wilkes Booth, fora morto no ato de captura e como a segunda figura no complô, John Surratt, filho de Mary, se encontrava em fuga, ela acabou por ser a individualidade central num processo, instruído por um tribunal militar especial, que se quis célere nos procedimentos, eficaz nos resultados e exemplar nas penas. Perante o horror dos yankees face ao crime cometido, como tolerar que uma mulher que se referia a Lincoln como “o vosso Presidente” pudesse auferir de todas as garantias de defesa e processuais (como ser julgada por um tribunal de júri) e, eventualmente, dada a fragilidade das provas carreadas para o processo, ser declarada inocente? Mary Surratt, apesar de sempre se ter proclamado ignorante do que o filho e os restantes conspiradores faziam num dos quartos da sua casa, acabou condenada e, pessoalmente, enviada para a forca por uma determinação do novo Presidente dos EUA. Todos os americanos o sabem: Mary Surratt foi a primeira mulher enforcada no seu país. Aiken, que invocou os direitos fundamentais de que todos os cidadãos gozam perante a lei, lutou até ao fim. Não estava convicto da inocência da sua constituinte (o filme também não, de resto) e expressava (tal como o filme) horror ante o assassínio de Lincoln. Mas não queria abdicar desses direitos, que, sustenta ele num diálogo do filme, foram postos na Constituição para momentos graves em que tudo parece colapsar — como naquela circunstância — para servirem de bússola, farol, guia."

"Os firmes valores de Aiken são os que Redford reivindica, para ontem e para hoje (estamos a ver os atropelos no julgamento de Mary Surratt e estamos a pensar em Guantánamo o tempo todo), através de um filme onde a História é matéria de reflexão para o presente. Mas o que é mais extraordinário é que, se o filme reclama um lado para afirmar quem teve (quem tem) razão, não invetiva o outro, também lhe compreende as razões. E, sobretudo, acredita que a grandeza americana é feita dessa tensão de contrários em que a alma não se perde, reencarna sempre."



"“A Conspiradora” parte de um espantoso argumento (de James D. Solomon), conta com um elenco notável (Robin Wright, no papel de Mary Surratt, magnífica de maturidade e contenção) e culmina na realização eficaz, substantiva, de Redford. É um dos grandes filmes — adultos — do ano." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 23/07/2011