18.5.12

 O Polícia
Título original: Ha-Shoter
De: Nadav Lapid
Com: Ben Adam, Michael Aloni, Meital Barda
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: IRL, 2011, Cores, 105 min.


"Há em “O Polícia” um momento decisivo em que Nadav Lapid figura o amargo niilismo do seu filme: é quando Shira (Yaara Pelzig), rapariga de Telavive, vê aquele bando de punks a destruírem-lhe o carro, a murro e a pontapé, sem que ela esboce qualquer reação. Nessa altura, já fomos apresentados ao polícia do título, Yaron (Yiftach Klein), e a 50 minutos do seu quotidiano de violência (a única escapatória que ele tem é dentro de casa, com a mulher, grávida de nove meses, facto que não contribui propriamente para lhe aliviar a tensão). Tardámos, tal como acontecerá com Shira, a saber o que o move, o que faz ele na vida, quando o vimos entrar no filme de bicicleta."
"Aonde se pretende chegar com isto? À ideia de que Nadav Lapid não dá de barato a definição das suas personagens, conseguindo com isso desarticular a bengala da identificação. O cineasta israelita quer tocar primeiro nas pessoas antes de chegar aos estereótipos que representam e fá-lo de uma forma sufocante, venenosa, num thriller quase sem ação, com dois blocos estanques, que sabemos depois estarem a decorrer ao mesmo tempo. Sente-se a violência sem se adivinhar o banho de sangue que ela acabará por desencadear. Sente-se, mais importante ainda, uma Telavive que é panela de pressão política e social pronta a explodir. O que significa viver num país cercado pela violência? O que significa fazer um filme sobre essa violência a partir do ponto de vista de quem oprime? Significa, forçosamente, fugir a clichés para poder erguer um filme. Significa, por exemplo, ousar deslocar o destino da palavra ‘terrorista’ dos árabes para os filhos burgueses e judeus da nação, corroendo-a assim pelo interior. E como? Sem tender a legitimar a ação daqueles revolucionários confusos e desorganizados que se barricam e chamam pela atenção da TV. Sem tender também a julgar o polícia a priori, perturbado, talvez pela primeira vez na vida, com a situação que se lhe depara, como o último plano do filme sugere. Lapid arranca com isto outra ideia possante: não está ele afinal a colocar a ‘violência legalizada’ da polícia no mesmo patamar da ‘violência terrorista’ dos fora da lei? Nem todas as personagens de “O Polícia” convencem (aquele pai que se junta à revolução dos filhos para salvar a consciência é um poço de confusão), mas convence o seu resultado."
"“O Polícia” é um filme cirúrgico que sabe defender-se de um julgamento superficial, colocando os problemas ao nível da consciência de cada espectador. Coerente com o seu pessimismo, não derrapa em território perigoso e permeável à retórica. Descobre com isso um ângulo de visão inesperado sobre as fraturas de um país em estado de desassossego. E dá-nos um cineasta a reter no futuro: sinal de uma mudança com vontade de falar em nome de toda uma geração?" Francisco Ferreira, Expresso de 12/05/2012