18.5.12

Uma Traição Fatal
Título original: Haywire
De: Steven Soderbergh
Com: Gina Carano, Ewan McGregor, Michael Fassbender, Channing Tatum, Michael Douglas, Antonio Banderas
Género: Thriller, Acção
Classificação: M/12
Outros dados: EUA/IRL, 2011, Cores, 93 min.



"No princípio do filme há um restaurante de beira da estrada, uma mulher serena que percebemos tensa — e o encontro com um homem que parece amistoso mas verificamos ameaçador quando uma luta se desencadeia, sem aviso prévio e com uma violência letal. Depois, ela foge no carro de um outro utente do restaurante, leva-o consigo, confuso, entre o fascinado e o temeroso, e começa a contar-lhe a sua história, a explicação daquele acontecimento que nos deixara presos à cadeira. É que, mesmo tendo na memória inúmeras lutas no cinema, logo se acorda no espectador uma singularidade: Steven Soderbergh não filma as cenas de ação com a chapa zero do costume, em que, entre dois estrondos e meia dúzia de planos tão rápidos que não se vê coisa alguma, acontece uma maquinal noção de movimento. Aqui, mesmo se o ritmo é avassalador, há tempo para perceber os golpes e as reações, trabalho facilitado pelo facto de Gina Carano, a protagonista de “Uma Traição Fatal”, não ser uma atriz, mas uma campeã de artes marciais."
"E, subitamente, o incrível ponto de partida do filme, que parece extraído do manual de lugares-comuns — uma belíssima mulher que jamais julgamos capaz de ser uma máquina de matar, uma agente de segurança treinada para as mais difíceis operações e cujos serviços são uma forma de guerra-relâmpago —, torna-se credível não pelo que nos dizem mas pelo que vemos acontecer. Há truncagens, há efeitos especiais, há artifícios de montagem? Evidentemente, nenhum cineasta põe uma intérprete a saltar de um telhado para o seguinte sem rede. O que eu quero dizer é que a utilização de Gina Carano como protagonista — e sai-se bastante bem, qualquer que seja o tabuleiro em que a situemos, no filme — acrescenta um efeito de realidade que muito contribui para o nosso investimento anímico. Nada do que a personagem faz no filme se pode considerar uma proeza impossível — o que ajuda imenso a que nunca sejamos atingidos pela chamada ‘sensação de banhada’ (o termo é de calão juvenil, mas exprime bem o que, tantas vezes, sentimos no cinema)."
"“Uma Traição Fatal” é um filme pleno de movimento, com um entrecho engenhoso (de Lem Dobbs, que já escrevera “Kafka” e “O Falcão Inglês” para Soderbergh), perseguições, combates corpo a corpo (permita-se-me destacar a luta que opõe a protagonista a um assassino, interpretado com implacabilidade bastante por Michael Fassbender, no quarto de um hotel de luxo, em que a guerra de morte tem muito de lascivo), tudo num terreno moral onde as lealdades individuais valem meio tostão furado. Soderbergh, porventura o mais prolífico e versátil cineasta americano destes dias (mas que nunca tinha abordado este género de filme), volta a mostrar que é um realizador para todas as estações, encontrando-se aqui na encruzilhada entre o cinema independente e o mainstream, com resultados gratificantes para um espectador que busque entretenimento com um toque de classe e inventiva." Jorge Leitão Ramos, Expresso de 12/05/2012